Minha Formação Política

Nasci de uma família de classe média; meu pai foi bancário e se aposentou em seu primeiro emprego depois de 28 anos de dedicação exclusiva. Nunca teve uma participação política relevante... minha mãe foi professora de primeiro grau e teve uma formação cristã tradicional, "temente a Deus", como se costumava dizer. 

Minha primeira participação política me levou a uma delegacia de polícia... estávamos em plena ditadura militar e eu era estudante secundarista em um colégio público de Ribeirão Preto. Eu lutava contra a prisão injusta e covarde de um professor de química. Esse talvez tenha sido o estopim para me despertar para o socialismo e a ideologia marxista. 

Tive muitas decepções políticas; vi o partidão morrer de inércia, presenciei o movimento estudantil definhar na luta inglória contra o poder, massacrado pela violência; perdemos as batalhas e a guerra contra as fardas, a despeito do que diz a história. Também vi o partido dos trabalhadores esquecer seus compromissos e se afundar na lama das ambições, tentando se perpetuar no poder... e agora vejo Aldo Rebelo, do PCdoB, apoiar, junto com o PT, a bancada ruralista na destruição de nosso Código Florestal! 

Fui filiado ao Partido Verde onde entrei para apoiar Marina Silva; em seguida, tentei ingressar na Rede Sustentabilidade com o mesmo objetivo, porque acredito que a única alternativa para os partidos políticos existentes é uma agremiação fundada na Dialética, na discussão permanente de seus ideais políticos, sociais, econômicos e ambientais; preciso encontrar espaço para discutir minhas ideias e conjugar o prazer de debater política, proteger as populações indígenas e defender o meio ambiente. No entanto, Marina Silva também fez uma opção equivocada, e se aliou a Eduardo Campos, do PSB, abrindo mão de sua candidatura à Presidência da República. Desisti da #REDE.

Mas a História é construída sobre os escombros do passado e, com o trágico acidente aéreo que vitimou fatalmente a Eduardo Campos, Marina Silva retorna à disputa presidencial, surpreendendo as forças reacionárias do PT e do PSDB. Resolvi voltar a apoiar Marina e defender minhas bandeiras ideológicas: o Indigenismo e o Ambientalismo. Marina seria a única que poderia responder satisfatoriamente às minhas expectativas. 

No entanto, ela também foi abandonada pelos seus apoiadores, e teve míseros 2% dos votos em 2018. No segundo turno, ficaram Haddad do PT (Lula estava preso) e Bolsonaro, o "Mico", o "Coiso", a escória que acabou vencendo as eleições com mais de 57 milhões de votos e o apoio incondicional das Forças Armadas, pela FIESP / CIESP, pelos malditos ruralistas e pelos evangélicos sem caráter.

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Durante minha expedição pelo rio São Francisco tive contato com outras realidades, desconhecidas da maioria dos brasileiros... situações de miséria e humilhação, de prepotência e arrogância das nossas minorias privilegiadas! Talvez, ao voltar do rio, minhas ideias tenham mudado; talvez eu decida apenas me recolher e me dedicar somente a plantar as sementes da discussão dos temas perdidos da luta contra a exploração descontrolada de nossos recursos naturais, até que seja tarde demais para sobreviver. 

Segui, no entanto, em 2010, para a Amazônia, em busca de novas perspectivas, para atuar como agente indigenista nas comunidades do extremo norte do país. Esses povos originários sobrevivem à opressão do garimpo, dos posseiros e grileiros, das lideranças corruptas, das madeireiras e mineradoras, e dos políticos e latifundiários que querem lhes roubar as terras e destruir o que resta de nosso meio ambiente preservado para plantar arroz e soja, criar gado, extrair minérios e derrubar árvores.

Mas não foi possível realizar meu intento: depois de um ano em São Gabriel da Cachoeira, retornei a Brasília, desiludido com o poder público, com a instituição indigenista em que trabalho, com a traição de alguns de meus companheiros e com as lideranças, tanto indígenas, quanto daqueles que dizem lutar em defesa dessa gente. A Causa Indígena não é um paraíso!

Constatei que não há saída, pois nosso povo está enclausurado em sua própria ignorância e escravizado pelos "formadores de opinião", comprometidos com o neoliberalismo globalizante e com o desenvolvimentismo a qualquer custo. Antes se diria que o povo é apenas "massa de manobra" nas mãos dos poderosos. Hoje, o poder está na mídia, nas seitas religiosas, no agronegócio, no setor financeiro, nas empreiteiras e na mineração.

Sigo, no entanto, meu caminho de "pastor de ideias", sem vínculos com a política, com a religião e com o poder de qualquer natureza. Sou um grito desperdiçado no deserto, em um mundo onde refletir, meditar, analisar e ter concepções próprias não é conveniente, pois incomodam o poder e as massas populares, que querem ser enganadas e conduzidas pelas areias escaldantes da ignorância.

Talvez devesse me dedicar apenas às aventuras na Natureza: à fotografia, ao mergulho, à canoagem, às cavernas, às montanhas, aos paraísos deste mundo, enquanto existirem... somente assim poderia ser feliz. No entanto, não há retorno para a consciência e estou condenado a pensar e compartilhar meus pensamentos, mesmo que não queiram me ouvir, pois somente assim me sinto vivo.

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