terça-feira, 5 de maio de 2015

A "Doutrina Petralha", o Efeito Lula e a Tragédia Dilma



Vivi metade da minha vida adulta em um sistema perverso de inflação e estagnação econômica. Aplicava meu salário em um tipo de "investimento" denominado "overnight", com rentabilidade diária e especulativa, que só existia porque a inflação mensal chegara a dois dígitos e devorava nosso salário antes mesmo que pudéssemos gastá-lo.

Com Sarney e Collor vários "planos econômicos" se sucederam, apenas agravando ainda mais a situação do país. No mês anterior ao congelamento de todos os ativos financeiros por Collor, a inflação mensal chegou a absurdos 83%, e muitos que se anteciparam e venderam bens pessoais, como imóveis, perderam tudo, devido ao congelamento da poupança e de seus rendimentos.

Com o impeachment de Collor, Itamar Franco assumiu a presidência e convidou Fernando Henrique Cardoso para Ministro da Fazenda. E, depois de décadas de caos econômico, passamos a viver em paz, com inflação controlada e crescimento sustentável. Sua principal medida foi a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impedia qualquer governante de gastar mais do que arrecadasse.

A crise econômica mundial do início do milênio favoreceu a vitória do PT e de Lula. Em meio ao entusiasmo popular pela ascensão de um metalúrgico à Presidência, os empresários manifestavam grande preocupação com os riscos de um regime socialista e a perda das conquistas econômicas do governo FHC. 





Foi então que Lula, para assegurar sua posse e acalmar o mercado, nomeou um Tucano para o Banco Central, Henrique Meirelles, e Antônio Palloci para o Ministério da Fazenda. Durante seu primeiro mandato a Economia cresceu, graças à estabilidade econômica conquistada por FHC, e junto aos programas "sociais" de Lula, criaram as condições necessárias para sua reeleição, em meio às denúncias de corrupção do Mensalão do PT.

Reeleito, Lula começa a desmontar as bases da Economia e a desfazer os seus fundamentos. Os gastos públicos foram para as alturas, e nova crise econômica mundial reduzia, gradualmente, as largas margens de nossa balança comercial. A crise se aproximava, mas os petistas se recusavam a admiti-la. Lula dizia que, enquanto um poderoso tsunami devorava as economias das potências mundiais, no Brasil apenas uma "marola" açoitava as praias da Economia!

A cegueira petista permitiu a eleição de Dilma Rousseff, cuja incompetência e arrogância nos levou à situação atual: inflação ascendente, recessão econômica, desemprego em ascensão, juros exorbitantes, e um escândalo ainda maior do que o Mensalão! O roubo descarado da Petrobrás está causando um desastre nunca imaginado na Economia, no qual todas as grandes empreiteiras estão comprometidas, assim como toda a cúpula do PT, incluindo Lula e Dilma!

Pior do que isso é a certeza de que o Congresso Nacional também está envolvido até o pescoço na imundície provocada pelos petralhas! E ninguém ainda sabe como o Brasil poderá sair dessa situação gravíssima, a ponto de surgirem até grupelhos irresponsáveis que querem a volta da Ditadura Militar!


Em meio a essa confusão institucional, oportunistas como José Renan Vasconcelos Calheiros e Eduardo Consentino da Cunha reinam, arrogantes, em seus cargos de presidentes do Poder Legislativo, usando de suas prerrogativas constitucionais para digladiar, estupidamente, em detrimento dos reais interesses da Nação brasileira. Isso só acontece porque a legislação eleitoral permite a formação de esdrúxulas "alianças" políticas entre antigos antagonistas, com o fim único de impor suas más intenções ao país.

Essa é a curta e lastimável história de um partido político que já foi a grande esperança de um povo, e hoje simboliza apenas a corrupção, a safadeza e o assalto aos cofres públicos em nome de uma desesperada fome de poder!

sábado, 14 de março de 2015

O triste ocaso de uma ideologia



Depois do enorme fiasco das manifestações de 13 de março de 2015, CUT, MST e PT amargam a ressaca da constatação de que suas teses populistas deixaram de entusiasmar o povo e de levar grandes concentrações de vermelho às ruas do país. Ontem, o que se viu foi um pequeno grupo de militantes, todos uniformizados, com suas bandeiras e camisetas vermelhas, tentando mostrar que ali havia mais pessoas do que estimou a Polícia Militar. Em suas maiores concentrações, na Avenida Paulista, em São Paulo, e na Candelária, no Rio de Janeiro, pouco mais de dez mil pessoas se espalhavam, em um misto de constrangimento e frustração pela ausência do grande público que esperavam.

O que teria causado esse emagrecimento das antigas hostes do que foi o maior movimento popular que o Brasil democrático conheceu? Em primeiro lugar, esses movimentos continuaram agitando as mesmas bandeiras ideológicas que, se fizeram sentido durante a Ditadura Militar e no Século XX, já não mais significam grande coisa em um mundo em ebulição, mais empolgado com o poder da tecnologia do que com teses do Socialismo Marxista do século XIX.

Já não se aplicam mais os conceitos de burguesia, proletariado, patrões e assalariados, esquerda e direita, luta de classes, ditadura do proletariado, palavras típicas das revoltas que mudaram o mundo do século XX. Hoje, o mundo se transforma pelas mãos dos fenômenos tecnológicos, seus recursos em frenética evolução, suas redes sociais, e a mídia "revolucionária", bombardeando mitos e paradigmas, afrontando religiões, quebrando estereótipos ultrapassados e preconceituosos.

Se a ideologia marxista já não encontra eco em nossas sociedades contemporâneas, o mundo capitalista enfrenta sua maior crise de identidade, pois, mesmo com a transformação que se processa pela tecnologia inovadora e imprevisível quanto às suas limitações, nunca a concentração de renda e as grandes, imensas riquezas familiares e industriais atingiram tais extremos. Um abismo de fortunas concentra o poder nas mãos de 1% da população mundial.

E nem o socialismo marxista, nem a democracia capitalista têm resposta a esse desequilíbrio de forças políticas que caracteriza o momento em que vivemos. A opção marxista, anacrônica e desinformada, representaria uma volta ao passado dos Czares da Rússia; a opção capitalista está aí, à vista de todos, enfrentando a pior crise econômica desde a depressão de 1929. E o sintoma mais evidente dessa incapacidade de enfrentar esses desafios do "Admirável Mundo Novo", que emergiu do fim da Segunda Guerra Mundial, são os conflitos intermináveis entre seitas medievais, como a Evangélica, o Judaísmo e o Islamismo, promovendo o desentendimento, as guerras, o terrorismo e a barbárie.

Outras evidências há, como o esgotamento dos recursos naturais, proveniente do crescimento demográfico incontrolável, o consumismo irrefreado e as ofertas cada vez mais atraentes de um mundo povoado pelos sonhos capitalistas, de poder, riqueza e glória. Esses sonhos, acessíveis somente a uma minoria privilegiada, nada têm a ver, no entanto, com as lutas de classe que deram sentido ao marxismo soviético e chinês. Hoje, a Rússia amarga uma situação de crise e de perda de poder, equiparando-se às nações emergentes dos BRICS, enquanto a China dos mandarins abandonou a doutrina e disparou um processo de crescimento vertiginoso, motivado pela sua imensa população, um mercado consumidor praticamente inesgotável, e pela adoção do modelo capitalista, selvagem e predatório, mais alinhado com os efeitos de devastação que causa.

Essa é a realidade atual, contraditória e predatória, incapaz de vencer os desafios que se apresentam à civilização do século XXI: convivência com as diferenças de visão de mundo e de religiões medievais, enfrentamento dos problemas ambientais e implantação de um modelo de desenvolvimento e consumo menos predatório e devastador, respeito à diversidade étnica e aos direitos das populações tradicionais de viver de acordo com suas tradições, crenças e modos de produção, redução das imensas disparidades entre a distribuição das riquezas do mundo, acabando com os privilégios das classes abastadas e coibindo a acumulação inesgotável de capital e poder a um grupo minoritário, controle rigoroso do crescimento demográfico e da distribuição das populações de modo mais uniforme pelos territórios habitáveis do mundo.

Fato é que essas ideologias que moveram o mundo, e cuja existência se exauriu na mudança de milênio, já não respondem mais a esses desafios, e não serão capazes de gerir uma civilização em permanente contradição entre o consumo e a acumulação de capital, e as noções de sustentabilidade econômica, ambiental e social, que deverão servir de arcabouço ideológico para uma futura ideologia, cujos valores e princípios deverão versar sobre justiça social, paz e tolerância às diferenças, que sempre existirão no mundo, pois não há igualdade na distribuição uniforme das riquezas do mundo. O ser humano se caracteriza, justamente, pela sua diversidade cultural e sua intelectualidade contraditória.

domingo, 8 de março de 2015

Os escândalos do PT e as mazelas da Nação


Já fui petista e defendi a bandeira da Ética, da Justiça e Igualdade Social, e da Solidariedade, pautado nas propostas desse partido.
A História, porém, me fez ver que estava errado e, depois de votar em Lula pela última vez, em 2002, jamais voltei a votar nesse partido. A frustração foi enorme! Participei do governo Palocci, em seu primeiro mandato em Ribeirão Preto, mesmo depois de ter sido demitido de meu cargo em favor de outro petista, demitido da PRODAM. Não votei em nenhum candidato do PT desde então, ou seja, desde que o Mensalão expôs as mazelas e os crimes desse partido.
Então, dou meu depoimento sobre os erros do lulopetismo (como diz o Estadão), com base em uma resposta que dei a um petista cego e fanático, como todos aqueles que não acreditam nos fatos, ou que ainda não se conformaram com a decepção que o PT nos causou:

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"Encarnação do demônio" é a situação que enfrentamos hoje! O que funciona neste governo do PT? A Economia está em frangalhos: dívida externa aumentando, balança comercial em déficit, PIB negativo, empregos desaparecendo, indústria em pleno sucateamento, Petrobras mergulhada em endividamento, perda de ativos e desqualificada pelas agências de risco, e o agronegócio correndo o risco de um processo de queda de produtividade em decorrência de uma política irresponsável de devastação do Meio Ambiente e expansão de fronteiras agrícolas.
Aliás, o Meio Ambiente vem sendo desprezado pelas políticas petistas desde o primeiro governo Lula, que preferiu investir no agronegócio em detrimento de nosso patrimônio natural. A Amazônia e o Cerrado estão se aproximando de um ponto de degradação irreversível, o que afetará o clima de toda América do Sul, mas o PT não dá a mínima importância para isso! Em plena realização da Conferência Rio + 20, o Congresso aprovou, e Dilma sancionou a pior lei ambiental que o Brasil já conheceu: o Código Florestal (ou Código do Desflorestamento, como dizia Aziz Ab'Saber), obra "magnífica" de uma maldita e famigerada bancada ruralista, apoiada pelo insípido Aldo Rebelo, que, embora tenha parte de seus líderes na oposição, tem o apoio irrestrito de Dilma Rousseff. Prova disso é que ela colocou no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, nada menos do que a maior inimiga dos Ambientalistas, Kátia Abreu, a Rainha da motosserra, segundo o Greenpeace!
A Política Indigenista nunca foi tão humilhada e desprezada pelos governos brasileiros! Nem mesmo durante a Ditadura Militar! A Fundação Nacional do Índio amarga a sua pior crise, sucateada por falta de recursos humanos e financeiros, e ameaçada pelos ruralistas, que querem ocupar a Amazônia com soja e gado, a qualquer preço! Os corruptos do Congresso ainda ameaçam a FUNAI e os povos indígenas com um projeto de emenda constitucional (PEC215), que propõe que o Congresso, e não a FUNAI e o Ministério da Justiça, decida sobre a demarcação de terras indígenas. Ocorre que esse processo de demarcação é técnico e exige anos de estudos de antropólogos, historiadores, arqueólogos e outros especialistas, e é regulamentado pela Constituição Federal e por decreto presidencial! E, além disso, as terras indígenas estão em permanente ameaça, com centenas, milhares de invasões, promovidas pelos amigos de Kátia Abreu, por grileiros que atuam sem oposição, e com a proteção de pistoleiros que vivem às claras na região Norte, e pelos parlamentares que querem a liberação dessas terras para a exploração minerária, incentivada por um ex-presidente da FUNAI, o senador Romero Jucá, um dos implicados no Petrolão! Nenhuma ação da Funai pode acontecer hoje, sem que alguma ONG estrangeira entre com o dinheiro, pois não temos nem mesmo o suficiente para a manutenção de nossa estrutura administrativa!
A Educação é uma grande farsa! Divulgam indicadores fantásticos, mas ninguém sabe, de fato, como é o ensino básico nas escolas do interior do Brasil! Falta de tudo: professores habilitados, instalações, material didático, merenda escolar... e os crimes de desvio de verbas continuam cada vez mais escandalosos! Mas ninguém sabe disso, não é mesmo? Essa é a desculpa do PT: "eu não sei de nada!" As escolas de nível superior chegaram ao seu pior nível da história! Abrem-se cursos, mas não existe qualidade de ensino! quem se forma é incapaz de escrever coerentemente, ou defender um ponto de vista, ou raciocinar coerentemente, uma vez que a língua de um povo é o instrumento através do qual ele aprende, ensina e evolui intelectualmente!
Nem vou falar dos programas assistencialistas do PT... ou melhor, vou sim! Os petistas disseram que tiraram 40 milhões de pessoas da miséria com o Bolsa Família, não é mesmo? Pois experimentem retirar esse "benefício" por apenas um ano e vejam quantos dos favorecidos pela "mesada" permanecem longe da miséria! O programa não tirou essas pessoas da miséria: apenas está pagando para que elas não passem fome! Nenhum mérito nisso! Seria fantástico se, além de dar a esmola, ensinasse essas pessoas a se sustentar por conta própria! Mas isso não aconteceu, assim como em outros programas igualmente assistencialistas, cujo único objetivo é assegurar a eleição de candidatos petistas, e dar prosseguimento ao seu projeto de poder e de implantação de um modelo socialista bolivarianista no Brasil, à imagem e semelhança aos planos totalitários de Cuba, Venezuela, Bolívia e outros. Ocorre que esses modelos de sistemas de produção estatizantes já demonstraram suas falhas e consequências na miséria dos povos que os tentaram durante décadas. O Comunismo fracassou, junto à doutrina de Karl Marx, nunca trazendo igualdade e justiça social, e gerando estados totalitários, onde a liberdade de expressão se tornou inimiga do regime e do "povo"!
O sistema de transportes não evoluiu, e todos os investimentos feitos por esse governo do PT não foram para se criar novas alternativas para fortalecer e tornar eficientes os modais de transporte, mas para criar obras destinadas aos "sócios" do PT: as grandes empreiteiras, hoje envolvidas no escândalo do Petrolão. Um dos delatores afirmou que a Petrobras é apenas uma, dentre muitas ramificações desse sistema de corrupção, propinas, cartéis e redes de desvio de dinheiro público existentes no Brasil. As ferrovias também não avançaram, atoladas na burocracia estatal e no desinteresse governamental por estimular outros modais de transporte, o que vai contra os "parceiros" do PT e seus "aliados" da indústria automobilística nacional; as hidrovias não saíram do papel, exceto por pequenas "experiências" mal sucedidas, e hoje nem existe água nos rios para viabilizar o transporte fluvial. As bacias hidrográficas sofrem com a devastação ambiental, ameaçando nosso imenso estoque de água doce, o maior do mundo. A aviação civil continua elitizada e de altíssimo custo para o transporte de cargas, tendo pequena participação no sistema logístico nacional. A navegação de cabotagem é um fiasco, pois os portos brasileiros também não foram modernizados como deveriam ter sido. Continuamos tendo uma das piores estruturas portuárias do mundo, encarecendo a exportação de nossos produtos. Consequência? O famoso "custo Brasil" continua fechando as portas do exterior para os produtos brasileiros, acometidos de outra doença: o aumento abusivo dos impostos sobre a produção, sobre a circulação de mercadorias, sobre a folha de pagamentos, sobre os serviços, e sobre nós, aposentados e assalariados! Taxar as grandes fortunas? Isso foi só promessas de campanhas...
O sistema energético, então, foi um desastre completo! Primeiro Lula investiu em termelétricas, para evitar os apagões, mas colocou o Brasil numa camisa de força, obrigado a pagar pelo uso de diesel para movimentar os motores das termelétricas! Depois veio Dilma com sua proposta indecente de investir em Hidrelétricas NA AMAZÔNIA! Com terríveis impactos ambientais e sociais, essas obras estão deslocando, com muito maior intensidade, o "desenvolvimento" para as nossas áreas protegidas, causando mais devastação ambiental. Os povos indígenas, mais uma vez, são as grandes vítimas desse desenvolvimentismo anacrônico, tomado de empréstimo da ideologia comunista dos primórdios do século passado! (OBS: A sociedade dos séculos XIX e XX já não existe mais! A Infraestrutura como "modelo de desenvolvimento" é uma estupidez! O desenvolvimento tecnológico mudou a face da Terra, mas os comunistas não perceberam isso! Por essa razão, o Comunismo, como doutrina, fracassou fragorosamente! A Rússia de hoje é um arremedo do passado! A China só é "comunista" para manter uma oligarquia de privilégios dos poderosos do "regime", mas é Capitalista como nenhum outro país do mundo!) Nada se fez, de efetivo, para substituir a matriz energética por energias renováveis e limpas, como a eólica e a solar, embora tenhamos as melhores condições do mundo para utilizá-las eficientemente. As iniciativas são tímidas e irrelevantes diante da opção hidrelétrica!
Enfim, caros amigos, onde estão as grandes realizações do petismo nesses últimos doze anos? Estamos empobrecidos, envoltos em sucessivas crises de governabilidade, estagnados em todos os setores mais nobres da Nação, e acuados pelos escândalos! Qual será o julgamento da História para esse período negro do Brasil? Qual será o "legado" do petismo nesse quadro trágico? Não, meus caros amigos, a História não será benevolente com o PT...

sábado, 17 de janeiro de 2015

A Vida fala por si


Difícil é envelhecer. Dizem que começamos a envelhecer no dia em que nascemos, mas isso não é verdade. Nosso corpo começa a mostrar sinais de envelhecimento quando os olhos já não mais conseguem se fixar nas palavras de um livro, quando as idéias se confundem no embaralhamento dos sentidos, quando a mente manifesta a intenção de agir, mas o corpo não reage no momento esperado. Envelhecemos quando a paciência deixa de ser uma de nossas virtudes, quando o corpo declara a dor que se instala, cruelmente em cada articulação. Envelhecemos quando, finalmente, admitimos esta realidade.

Não é verdade o eufemismo da terceira idade, da "melhor idade"! Só os tolos acreditam nisso. A velhice é a idade da solidão, da melancolia, da insegurança e do sofrimento. Mesmo a alegria, quando chega, é contida, temerosa de seu inevitável fim. Manifesta-se cautelosamente, incrédula, quase triste...

A velhice é a espera da morte, sem eufemismos, crua e cruel. É a certeza de que o nosso tempo passa a ser contado em ordem decrescente, o quanto ainda temos para sofrer e suportar as dores do envelhecimento. E a única esperança é que ela venha rápido e dure pouco. O medo de ficar em uma cama, entregue aos cuidados de um estranho, um estorvo para os filhos, uma presença indesejada, esse é o sentimento que acalenta nossos pesadelos.

Já não é assim para aqueles que acreditam em Deus. Os crentes ainda esperam pela "providência divina", pelo "paraíso", pela "ressurreição"; mas nós, ateus, sabemos que a morte é, simplesmente, o fim de uma vida. E nada haverá depois da vida. Essa é a razão das religiões terem tantos adeptos: quem, afinal, consegue encarar o vazio após a morte? O NADA? A ausência absoluta de tudo o que fomos em vida? Como, enfim, viver, se sabemos que nada temos e nada levaremos no desenlace de nosso cordão umbilical com esse inferno terreno?

Pior do que morrer, seja  lá como for, é o sentimento claro, a percepção inequívoca de nosso envelhecimento, a perda de nossas capacidades adquiridas ao longo do caminho, o isolamento dos jovens, que já não mais nos compreendem, a consciência de que tudo aquilo porque lutamos foi, simplesmente, inútil... para que "Causas Altruístas" se mesmo o mundo, tal qual o conhecemos, perecerá um dia? Por que acreditar que a Natureza é bela, se nossa percepção do mundo é limitada por sentidos frágeis? Seria, o que vemos, a verdadeira natureza das coisas, ou apenas a ilusão de nossos olhos e de nossas mentes? Seria, o que sentimos, Amor, ou tão-somente um apego primário a outro ser, temerosos de nossa própria solidão?

Sim, a Vida é efêmera... mas pior ainda é temer que mesmo esse curto existir foi fundamentado em percepções equivocadas, ilusões de nossa mente! Resta-nos, apenas, admitir a insignificância do ser, e deixar que a areia escorra, lentamente, levando-nos com ela para o infinito inexistente...