sábado, 26 de julho de 2014

Não esperes, de mim, palavras doces...

Chapada Diamantina
E Ele me disse, na escuridão de meus ouvidos: 

"De que reclamas, se, em tua vida, realizastes mais do que a maioria dos mortais?"

E insiste, enfático:

"O que esperas de mim, se, convicto, me negastes, durante teus curtos dias nesta Terra, espaço inútil, a quem amas mais intensamente do que àquele que te criou e concebeu?"

Mas eu, no mais obscuro silêncio dos recônditos esconderijos de minh'alma, ouso responder:

"Jamais reclamo, pois sei que, de minha efêmera existência, nada levo, tampouco nada deixo para trás; sequer saberia dizer para onde se destinam as almas, se existem, quando a vida deixam para trás..."

E, entusiasmado com a retórica de minha inaudita afirmação, prossigo, irreverente:

"Se Tu existes somente na imaginação dos homens, a cada um mostrando a outra face - não a Tua - por que iludes assim a humanidade, crente em recompensas que nem mesmo o silêncio das eternas moradas as revelará, ainda que muitos afirmem tê-las visto, vagamente, na penumbra da quase-morte do infinito renascer matutino, reverberando em suas próprias construções mentais?"

Prossigo, ainda, insistente, em minhas confabulações inúteis:

"Onde estão aqueles que doaram suas vidas a causas iníquas, se Tua Sabedoria Universal afirma a efemeridade de tudo o que existe, existiu ou virá a ser, um dia, neste transitório mundo dos homens?

Finalmente, satisfeito com minha argumentação vazia, lanço meu veredito:

"Se confabulo com o Inexistente, mas apenas meus pensamentos ouço em derredor, onde estaria, enfim, o derradeiro Reino que escreveste em todos os Livros Sagrados, em diferentes línguas, em variadas metáforas e parábolas, em artimanhas do pensamento, que só os homens, em suas manifestações terrenas acreditam compreender? Onde estaria, afinal, Tua Morada, ainda que não fosse, tão-somente, outra das inesgotáveis armadilhas construídas pela imaginação humana?"

"Não esperes, de mim, palavras doces, daquelas que escutastes dos poetas, dos amantes nas alcovas, a prometer, em versos, o seu amor eterno, e a esquecê-las, céleres, ao amanhecer!"

"Não creias, pois, nos pensamentos que vazam, aos borbotões, nas frases que se despejam, sem cessar, dos textos que publico, na intenção não manifesta de iludir os meus leitores, ao afirmar a ilusão da própria vida, em suas manifestações inesgotáveis, neste eterno alvorecer!"

Não o faço, porém, com a má-fé dos "pastores de alma", que encontram, em palavras vãs e sibilinas, a provável indicação do eterno Reino daquele que, tendo sido o "Criador das criaturas", delas não fez um ser perfeito, deixando, a cada um, a missão improvável de resgatar a alma impecável que existiria, supostamente, na obscuridade do futuro, desconhecido e cruel.

Apenas creio saber, no âmago de meu ser, que tudo o que fizemos e deixamos para trás, no ocaso de nossos dias terrenos, de nada servirá para salvar a humanidade, nascida órfã e deixada aqui, abandonada "neste vale de lágrimas", a padecer eternamente, enquanto vivos.

Não esperes, de mim, palavras doces, mensagens de conforto ou de consolo, pois, na tumba em que repousará o teu cadáver, serás apenas, e tão-somente, alimento aos vermes... nada mais.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

E o PT perde, aos poucos, seus argumentos...

O fantasma do FMI ronda o governo Dilma com previsões pessimistas da Economia
"O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu suas projeções de crescimento do Brasil para este ano e o próximo, citando aperto nas condições financeiras e a deterioração da confiança dos consumidores e dos empresários."
"Pelo seu relatório 'Perspectiva Econômica Global', publicado nesta quinta-feira, o FMI previu que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 1,3% em 2014 e 2% em 2015, com queda de 0,6 ponto percentual sobre as duas expectativas anteriores." Fonte: jornal "O Estado de São Paulo"
Se nos "Anos-Lula" a Economia seguiu em alta, por inércia, seja no aumento do emprego, seja no PIB, e a inflação se manteve em patamares aceitáveis, dentro dos limites estabelecidos desde a Era FHC, a Era Dilma, infelizmente, levou todas as expectativas para baixo, com perspectivas sombrias para este ano eleitoral.
Os adeptos do "Petismo" inconsequente acenam para os ganhos sociais de seus governos, e é fato que as transformações sociais aconteceram como nunca antes, criando uma onda de boas notícias para todas as camadas "pobres" da população.
Ocorre, porém, que este governo atual, de Dilma Rousseff, é muito diferente dos tempos de Lula, que já nos parecem tão distantes, tamanhas são as diferenças entre seus "estilos" de governo. Se Lula manipulava com habilidade os contatos políticos de sua ampla gama de "aliados", assegurando, quase sempre, vitórias fáceis no Congresso, já Dilma não consegue, sequer, coordenar sua própria base petista, que engrossa o coro do "Volta Lula!" sempre que os índices de popularidade da "presidenta" despencam, e o segundo turno se torna quase uma certeza.
Quais serão os temas em debate nas campanhas presidenciais?
Em primeiro lugar, certamente, a disputa PT-PSDB se mostrará uma esgrima com armas diferentes: os primeiros, mostrando essas propaladas "conquistas sociais", e os segundos, brandindo os números da Economia "descendo a ladeira", saudosos dos tempos de FHC, o "Déspota Esclarecido", o "Príncipe Maquiavélico" que recusou seus próprios pensamentos em favor da "governabilidade"! E, na contramão, Eduardo e Marina falando de "paz e amor" e pregando uma nova "Era de Aquárius", em que todos serão felizes, as alianças serão sinceras (?), as florestas serão preservadas (?), os indígenas serão respeitados (?), os desníveis sociais (que o PT afirma não existirem mais) serão reduzidos como em um passe de mágica (?) e o Brasil será o modelo de um "Admirável Mundo Novo", com suas "energias renováveis" em plena ascensão!

É claro que todos estarão mentindo!
Todos os três candidatos já buscaram suas "doações de campanha" com Mineradoras, Madeireiras, Empreiteiras e Latifundiários do Gado e da Soja! E tudo continuará na mesma no "day-after" das eleições! As "alianças espúrias", mais uma vez contaminaram os três gladiadores e, ao apagar das luzes eleitorais, estarão reivindicando seu quinhão nos ministérios, nas secretarias, nas presidências das estatais e das agências reguladoras, nas diretorias de todas elas...
Curiosidades pré-eleitorais: "No apagar das luzes da calmaria que precede as tormentas, Dilma travestiu-se de uma coragem inaudita, e convocou seu embaixador em Israel de volta ao Brasil! Ulalá! Em 12 anos de PT, o Brasil ficou em cima do muro (que pertence aos Tucanos) e omitiu-se em todas as contendas internacionais, mantendo uma neutralidade covarde em sua "Política Internacional", e envergonhando nosso passado de Diplomacia corajosa e atuante. Até os Israelenses se surpreenderam e nos ofenderam, parodiando essa atitude com uma pergunta: "Afinal, quem é o anão entre nós?", como a dizer: "Que importância tem esse gesto brasileiro?".
Se Lula não conseguiu inserir o Brasil entre os países do Conselho de Segurança da ONU, pelo menos criou-se, em seu governo, o Grupo dos 20 e, depois, os BRICS. Não é grande coisa... afinal, o Chile, com seu "pibinho" infinitamente menor que o do Brasil, conseguiu aliados importantes e fechou acordo com os países do Euro, por que o Brasil não soube sequer manobrar o Mercosul em seus 23 anos de existência, e não fechou sequer uma aliança expressiva, seja com a Europa, seja com o Oriente, cada vez mais Chinês? E, se o Chile, em apenas dois anos já possui cinco países (Chile Colômbia, México, Peru e Costa Rica) na Aliança do Pacífico, com mais vinte países interessados em se unir a eles, como o Brasil e a Argentina, os dois países com maior influência na América Latina não conseguem alavancar esse "bonde encalhado" do Mercosul?
Pois é nesse clima de desencanto do brasileiro consciente, e de submissão do brasileiro que se escravizou às "bolsas do PT", que se desenrolará a sucessão presidencial. Os Tucanos, nesses doze anos de oposição, não foram capazes de criar nenhum fato novo, nenhum argumento forte, nenhum programa de governo relevante, ficando à sombra de seu líder maior, FHC, para comandar os discursos, enquanto Dilma se esconde atrás das barbas crescentes de Lula, incapaz de proferir um discurso coerente.
Se o PT tinha os Movimentos Sociais para conquistar seus votos, através das dezenas de siglas que grassam num emaranhado de pseudo-ideologias de uma "esquerda" anacrônica, e se o PSDB tinha o Plano Real e o seu "ideólogo" capitalista, ex-socialista e neo-liberal para tentar resgatar seu prestígio entre a classe média brasileira, hoje ambos sofrem de anemia intelectual e perdem sua inspiração ideológica, pois morrem à míngua nos caminhos sinuosos da História recente. Não existem mais as ideologias "comunista", "socialista", "liberal", "conservadora" ou seja lá o que se quer rememorar. O mundo entrou numa espiral descendente, premido pelo tempo, na tentativa de recriar suas fontes capitalistas de produção "sem impactos ambientais"! A propalada "Sustentabilidade" perdeu também seu encanto quando o "mercado" administrou seus significados, adjetivando sua semântica com complementos tais como "Social", "Econômica", "Ambiental", "Política"... tudo se tornou "sustentável", enquanto os processos produtivos, voltados ao consumo, "consomem", de fato, o que resta para reverter a espiral do tempo e os danos ambientais do aquecimento global.
Elegeremos Aécio ou reelegeremos Dilma? Para mim, não importa mais. O que foi feito de conchavos entre os mesmos donos dos barbantes que movem as marionetes da população ignara, isso não tem retorno. E os resultados serão similares, ganhando em alguns terrenos, e compensando, negativamente, em outros. Ao fim, a soma será sempre ZERO. E não temos escapatória! Não há como fugir desta arapuca política.
Assim, se o PT perde, aos poucos, seus argumentos, o PSDB e o PSB ainda não encontraram os seus, e caminham em círculos, esperando que os marqueteiros de sempre encontrem uma saída honrosa para aqueles que perderem e para aqueles que ganharem, simplesmente porque a herança é lastimável... quem quer os escombros de uma avalanche? O que fazer com um país que não sabe sequer quem são os bons (eles existem?) e quem são os maus nessa corrida maluca do tipo: "perde-perde"?
Portanto, talvez eu vote em um candidato sem chances de se eleger, como o PCB, o PSOL ou o PV... mas considero irrelevante meu voto diante de tanta tolice que se percebe nesse "jogo eleitoral". Talvez, por isso é que se chame "jogo", não é mesmo? Talvez eu vote "nulo", ou, simplesmente, não vote... o que importa?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Um Mundo Desconhecido de Deus

Escombros na Síria - anos de guerra civil desconstruindo uma Nação
O Oriente Médio é a origem de três das mais importantes religiões do Ocidente: a Católica, dos Palestinos, a Islâmica, dos Árabes, e a Judaica, dos Israelenses. É uma simplificação, evidente, mas serve aos propósitos dessa análise. Essas três religiões têm um fundamento em comum: acreditam que um "filho de Deus" viria à Terra para "salvar" a Humanidade de seus "pecados"; aqueles que não forem "salvos" irão para o "Inferno", enquanto aqueles que acreditarem em seus dogmas e seguirem seus ensinamentos, irão para o "Céu". As três religiões possuem seus "Livros Sagrados", escritos sob a "Inspiração Divina": a Bíblia cristã, o Alcorão árabe e o Torah judaico. E, para cada um deles, apenas suas "Verdades" são dignas do seu deus particular e merecedoras do Paraíso. Ou seja, essas religiões são auto-excludentes!

Tais religiões permaneceram praticamente imutáveis, em seus dogmas, até os dias atuais, migrando para o resto do mundo ao longo dos séculos até chegar a seus três bilhões de fiéis, metade dos quais professam a fé cristã, nela incluídos o catolicismo, o espiritismo, o protestantismo e sua variante de evangélicos. Hinduísmo e Budismo somam outros três bilhões de seguidores, enquanto cerca de um bilhão de pessoas se declaram ateus ou agnósticos. Cerca de quinhentos milhões se dispersam nas demais religiões, incluindo o judaísmo.


Davi e Golias
No século passado, as religiões cristãs evoluíram, adaptando-se às transformações tecnológicas de nossos tempos, quebrando certos mitos e disfarçando certos dogmas que não se justificam mais e não se sustentam dentro das sociedades modernas. Mas no Oriente Médio isso não aconteceu. E é disso que iremos tratar, uma vez que as guerras "modernas" que se arrastam por quase um século, dizimando milhares de famílias, impedem que as religiões muçulmana e judaica se adaptem a esses tempos atuais. E são elas, as religiões fundamentalistas, que alimentam as guerras intermináveis entre árabes e judeus.

Uma população de cerca de duzentos e setenta milhões de seres humanos não sabem o que é viver em paz, ainda que relativa. Metade dessa população pertence ao Irã e à Turquia (cerca de 140 milhões de habitantes).


  •  Afeganistão
  •  Arábia Saudita
  •  Bahrein
  •  Catar
  •  Chipre
  •  Egito
  •  Emirados Árabes Unidos
  •  Iémen/Iêmen
  •  Israel
  •  Irã
  •  Iraque
  •  Jordânia
  •  Kuwait
  •  Líbano
  •  Omã
  •  Palestina
  •  Síria
  •  Turquia

                Países do Oriente Médio


O que terá havido de tão grave nessa região para que as guerras nunca tivessem cessado ao longo de sua existência? Quais os fatores que conduziram esses povos a uma hostilidade sem precedentes, chegando a ameaçar a paz mundial, embora essa "PAZ" não seja assim tão tranquila?Considerando-se apenas o período de 1900 aos dias atuais, foram nada menos do que 23 guerras declaradas entre países daquela região, além de dezenas de conflitos, rebeliões, massacres, revoltas e golpes de estado.

Certamente, o Oriente Médio é uma das regiões mais conturbadas do mundo. Curiosamente, é também o berço da civilização ocidental, terra dos Persas, Sumérios, Acádios, Babilônios e Assírios; em um segundo período, foi a terra dos Fenícios, Macedônios, Turcos, Otomanos e Egípcios; no ano 30 a.C. o Egito sucumbiu ao Império Romano, encerrando o longo período de reinado dos Faraós. O Oriente Médio nunca mais recuperou seu brilho e poder. Permaneceu, porém, o culto às tradições, e o temor a Deus, que manteve essa região aprisionada aos dogmas religiosos que os ataram ao passado. O povo judaico foi expulso do Oriente Médio no primeiro século da era cristã, em um movimento conhecido como Diáspora ("dispersão").

Muro da Vergonha Israelense
O Estado de Israel somente ressurgiu em 1948, quando a ONU reconheceu sua existência e determinou que suas fronteiras fossem demarcadas na região em que hoje se encontra, um pequeno território espremido entre o Mediterrâneo e os Estados da Líbia, Síria, Jordânia e o Egito. Certamente, a imposição de um território cercado de seus piores inimigos foi o marco que determinou a expansão do Islamismo, a reconstrução dos Estados Árabes, a coalizão desses estados em oposição a Israel e, finalmente, o ressurgimento dos Palestinos, reivindicando também o direito a seu território e da cidade de Jerusalém, justamente nos domínios de Israel.

Desde então, esses estados coexistem em função da guerra, e suas populações, principalmente de Israel, do Irã e do Iraque, não souberam mais o que é a Paz. Esses conflitos acontecem em uma região rica em petróleo, onde qualquer instabilidade política afeta o mundo ocidental. As Guerras do Golfo nada mais foram do que uma luta pela hegemonia e pelo domínio da produção petrolífera que abastece os Estados Unidos e a Europa. 

Lá se confundem as tradições religiosas com a riqueza trazida pelo petróleo. Lá os Estados Unidos investiram numa guerra que pretendia assegurar que o fornecimento de petróleo não fosse interrompido; isso seria uma catástrofe que paralisaria a sociedade norte-americana, tornando esse país extremamente vulnerável às demais potências mundiais, Rússia e China.

Mas havia outro interesse para os norte-americanos: utilizar seu imenso arsenal bélico, construído para aplicar em outro conflito: a Guerra do Vietnam. Esses armamentos estavam se tornando obsoletos, e a indústria bélica sob o risco da falência, caso novos conflitos não fossem alimentados, de forma a exigir a produção de uma nova geração de armas marítimas, aéreas e terrestres.

E os Estados Unidos se jogaram "de corpo e alma" na Guerra do Golfo (entre Irã, Iraque e Kwait), vendendo ao mundo a imagem da redenção, pois os iraquianos ameaçavam incendiar todos os poços de petróleo do Kwait, o que de fato fizeram. Com isso, empresas foram contratadas para apagar os incêndios e "salvar" os poços de petróleo. E os EUA acabaram com seu estoque obsoleto de armamentos, reativando a sua feliz e próspera indústria bélica e ambicionando o domínio dos poços de petróleo.

Alguns anos depois, mais exatamente em 2001, um atentado às Torres Gêmeas e ao Pentágono, assumido pela organização Al Qaeda, de Osama Bin Laden, foi o estopim de nova Guerra, desta vez com o objetivo de capturar o terrorista, mas que, por trás dessa justificativa, pretendia executar um plano maior, de assassinar Saddam Houssein, o "Diabo" travestido em presidente do Iraque, a quem os norte-americanos acusavam de ter um arsenal de armas químicas (nunca encontradas), que seriam utilizadas pela Al Qaeda para perpetrar novos ataques terroristas em todo o mundo. Uma guerra de perseguição foi executada, varrendo do mapa o Iraque, tal como existia antes, e "executando" Saddam Houssein, em uma invasão do Paquistão. Em outra frente da mesma guerra, o Afeganistão foi varrido pelo exército norte-americano, tirando do poder o Taliban substituindo-o por governantes "da confiança" dos norte-americanos. Tanto o Iraque quanto o Afeganistão jamais se recuperaram dessa intromissão político-militar norte-americana.

Poderio Militar de Israel (o Golias)
Essas escaramuças, com poderio de uma "Força Estelar" digna do seriado "Star Wars", desestabilizou definitivamente os países da região, afetando, inclusive, outros países africanos, como o Egito e a Líbia, onde seus presidentes foram destituídos, em um processo que chegou a ser chamado pela mídia, de forma imprópria e precipitada, de "primavera árabe". Muhamar Kaddafi, da Líbia, foi morto pelos rebeldes, financiados e apoiados pelos Estados Unidos e pela OTAN, que enviou seus caças para bombardear Trípoli.

Não pretendo ser exaustivo nessa brevíssima retrospectiva histórica, mas apenas ilustrar minhas conclusões a respeito dos conflitos atuais. A Síria vive uma guerra civil que teve início em 2011 e já causou quase duzentos mil mortos. Toda guerra civil evidencia o esfacelamento das estruturas sociais e políticas de uma nação. Mas demonstra outra face do problema: o exército toma partido, considerando inimiga da nação parte da população, que apenas demonstra sua insatisfação com os donos de um poder totalitário. Ter um exército implica neste risco.

Palestinos fugindo do terror da guerra
Voltando à questão palestina, Israel pratica hoje a mesma política que foi utilizada pelos Aliados em Berlim, após a derrota de Hitler, erguendo um muro para separar o lado dos "aliados" daquele ocupado pela União Soviética. Hoje, Israel bombardeia áreas da Faixa de Gaza, ocupadas pela população civil, assassinando pessoas comuns para enfraquecer o que consideram seus inimigos, agindo contra a vontade de parcela expressiva de seu próprio povo, que já está cansado da guerra e quer apenas viver em paz.

O que faz Israel ser tão seguro de seu poder? Seu exército e seus armamentos? Seu treinamento exemplar para a guerra? Sim, isso também. Mas existe outra razão, talvez mais forte, e que paralisa os Estados Unidos diante do Conselho de Segurança da ONU: existem milhares de judeus nos Estados Unidos, muitos deles em posições estratégicas, inclusive como acionistas e diretores das maiores empresas do país.

Por essa razão, a ONU não consegue aprovar nenhuma decisão que desagrade esses interesses subalternos e não manifestados. Mas seria esta a única razão? Certamente, não. Também do lado árabe existem radicais armados de seu livro sagrado, o Alcorão, pregando a extinção do Estado de Israel. É claro que esses poderosos, que manipulam os cordões da política internacional, nunca estiveram num "front" de batalha, nem viram suas famílias serem destroçadas pelas bombas lançadas sobre suas casas! E os obscuros corredores por onde caminham esses políticos não levam a um acordo de paz.

Nesse mundo desconhecido pelos deuses de seus povos não existe a boa vontade, nem a compaixão, sentimentos humanos demais para pessoas tão cruéis, mas que levariam ao entendimento, ao perdão, à harmonia e à paz. Nenhum povo deveria ser educado para ter ódio de seus semelhantes. No entanto, nessa terra de sofrimentos, somente o que as crianças aprendem é manejar um fuzil, atirar uma bomba, odiar o "inimigo" que eles sequer conhecem, e rezar para que seu "deus" reserve para eles um espaço no "paraíso" com mil "virgens" para saciar seus desejos...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Inventário da Copa

A COPA DOS ALIENADOS DA NAÇÃO ("país sem pobreza"?)
Finalmente, a Copa do Mundo de Futebol chega ao fim. Foram meses de preparação, justamente às vésperas de uma eleição cujos resultados definem o futuro desse país de alienados. O único assunto do país, por mais de um ano, foi a escolha do técnico e de seus assessores, a escalação do time, os palpites de cada um (transformado em técnico de futebol), as críticas aos gastos excessivos da Copa, as promessas de boicotar o evento...

Bastou que os jogos começassem para que os compromissos de boicote fossem esquecidos, pois, acima de tudo, o Brasil é o "País do Futebol"! Essa é a religião do povo, o ópio que consome os cérebros e faz com que a população se entregue ao transe provocado por uma bola rolando em um gramado retangular. Diante desse hipnótico objeto, os problemas nacionais se tornam irrelevantes. Foi assim em 1970, em plena Ditadura, e assim é agora.

Estamos há 12 anos sob o regime de um partido único e seus penduricalhos oportunistas. A oposição é torpe e insegura, pois ninguém tem um plano de governo para esse país do faz-de-conta! Às vésperas das eleições a oposição não sabe ainda o que contrapor às armas do PT: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, etc. Parece que a criatividade do país murchou com o futebol... o único esporte que interessa para esse povo inculto!

Nem parece que daqui a dois anos estaremos sediando as Olimpíadas pela primeira vez! Quem pensou em investir nos Esportes? Quem sabe como o Brasil se apresentará diante do mundo? Será, certamente, mais um vexame nacional, digno do PT de DILMA e LULA! E também da oposição medíocre de Aécio e Marina... e apostávamos tanto em um projeto chamado "Rede Sustentabilidade"... esse projeto sucumbiu com Eduardo Campos.

O que resta da Copa do Brasil, além de gastos bilionários (cuja verdadeira dimensão ninguém conhece), da perda de produtividade pelo ÓCIO que tomou conta do país por 30 dias, dos estádios do fim do mundo, que ninguém saberá para que servem, e do "silêncio dos inocentes", calados pelo fascínio de uma bola de futebol? Resta a frustração de perder vergonhosamente de 7 x 1, justamente no momento em que a população, entorpecida, se enchia de esperanças de conquistar sua sexta estrela! Para que serve mesmo uma estrela dourada, vinte e três medalhas e uma taça dourada e temporária? Pois a copa se foi e ficou um vazio que não poderá ser preenchido. Ainda por alguns dias, um bando de repórteres, que se acham especialistas nesse esporte amaldiçoado, irá analisar, à exaustão, o "porquê" do desastre. Só que estarão analisando o desastre errado, pois a verdadeira tragédia do Brasil é o seu povo ignorante, que se entrega ao abate por uma bola de futebol.

Enquanto isso, as grandes questões nacionais continuarão ocultas das discussões que deveriam preceder as eleições: os Políticos Corruptos, que desde a invasão portuguesa, em 1500, em sucessivas "sesmarias", se apropriam das riquezas nacionais em detrimento do povo inculto; a reformulação do Sistema Político, que finge ser a própria "Democracia", mas é dominado pela aristocracia arrogante dos poderosos; o Agronegócio, que privilegia o enriquecimento ilícito de uma minoria, em detrimento dos milhões de pequenos agricultores ludibriados; o Indigenismo, traído pelo próprio governo petista que, priorizando os ricos, esqueceu-se da tragédia que se abate sobre os povos indígenas há cinco séculos; a Mineração, que sorve a essência da terra em troca de um comércio medíocre, negociando toneladas de matérias-primas exportadas por gramas de alta tecnologia importadas; as Madeireiras, que devassam as florestas para que meia dúzia de megaempresas se locupletem de riquezas extorquidas de nosso Meio Ambiente; as Empreiteiras, aliadas do governo petista, que, estimuladas pela estupidez de DILMA, implantam gigantescas hidrelétricas no coração da Amazônia, sugando da floresta seus recursos fantásticos, e trocando-os por energia suja (sim, suja, pois acaba com a vida por onde se instala) a ser consumida no "sul maravilha"!

Esse é o legado de uma Copa do Mundo, que teve um começo sofrível, um desastre deplorável pelo medíocre desempenho da equipe do Brasil, uma lição de incompetência do governo para lidar com a crise de comando de seu incompetente ministro dos esportes, Aldo Rebelo, que não entende nada de coisa nenhuma, e um final melancólico, com essa equipe que mal se sustentou sobre as pernas até o final dos jogos. Fica, de "positivo", a acolhida sempre simpática de nosso povo que, estupidamente, não percebe que também essa subserviência ao estrangeiro, essa admiração pelo "outro" em detrimento de "si mesmo", é facilmente manipulada por aqueles que manobram os cordões das marionetes, que somos nós, brasileiros... tristes lembranças de uma copa inútil...

sábado, 12 de julho de 2014

Os Heróis e os Mártires desta Nação

Aldeia Krãnh na Terra Indígena Trincheira Bacajá, nas proximidades da Volta Grande do Xingu e de Belo Monte
Quando portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses aportaram em terras da América na transição do século XV para o século XVI, o continente já era povoado por milhões de habitantes e centenas de etnias em diferentes estágios de evolução de suas sociedades. Ao norte da América, várias tribos se espalhavam por toda extensão territorial, desde o Atlântico até o Pacífico, vivendo em modo simples, explorando os recursos naturais necessários à sua sobrevivência e criando uma cultura rica e diversificada.

Na região central do continente americano, diversas civilizações milenares como os olmeca, teotihuacan, zapoteca, mixteca, huasteca, purepecha, tolteca e mexica anteciparam-se à construção dos impérios Maya e Azteca, igualando-se (ou mesmo superando) em brilho e magnificência o império egípcio. Suas construções monumentais em nada deviam às pirâmides, bem como sua ornamentação e seus cerimoniais fantásticos e sofisticados.

Nessa mesma época, no auge de sua civilização, a Europa vivia o período mais negro e sombrio de sua História, marcado pelas guerras violentas e cruéis, pela sucessão de monarcas ambiciosos e corruptos, e pela ação grotesca da Igreja, que constituiu um exército (as Cruzadas) sob o pretexto de resgatar a "Terra Santa", mas que cometeu as piores atrocidades contra seu próprio "rebanho", culminando com a "Santa Inquisição" que executou sumariamente todos os seus inimigos, queimados em fogueiras públicas, bastando, para isso, contestar a "Fé Cristã"! Ao sul da América, na região Andina, cresceu e floresceu a Civilização Inca, que se equiparava, em poder e riqueza, aos Mayas e Aztecas.

O conhecimento desses Povos Americanos suplantava, em muitos aspectos, a cultura do Velho Mundo, e seu povo dominava técnicas agrícolas que os europeus jamais suspeitaram existir. Em território oriental da América do Sul, centenas de etnias, falando dezenas de idiomas de quatro troncos linguísticos, coabitavam em relativa paz, explorando, com sabedoria e sucesso, as riquezas naturais da Floresta Amazônica, onde vivia a maior parte desses povos. Estima-se que toda América acolhia milhões de habitantes em diferentes estágios civilizatórios. Porém, com a invasão dos europeus, esses verdadeiros habitantes da América foram cruel e sistematicamente assassinados, ao longo de cinco séculos, processo que se prolonga até os dias atuais, vítimas do pior genocídio de todos os tempos. Apenas no Brasil, estima-se que mais de quatro milhões de indígenas tenham sido trucidados ou mortos por contaminação intencional de doenças, tais como a gripe, a varíola, o sarampo, a caxumba e a tuberculose. O ensino de História do Brasil nas escolas de nível fundamental mostra uma "realidade" que nada tem a ver com a verdadeira história de nossa Nação.

Os índios brasileiros foram vítimas das piores atrocidades praticadas por madeireiros, garimpeiros, tropas militares, grileiros, jagunços, posseiros e toda sorte de bandidos que "construíram" as propriedades rurais da atual aristocracia do Brasil. A Igreja Católica também foi responsável por crimes étnicos, na medida em que destruíram tradições e costumes sagrados desses povos, desconstruindo seu universo mítico e substituindo seus valores por outros que nada tinham a ver com a história desses povos. O "desbravamento" dos sertões foi uma avalanche de crueldades que não se consegue imaginar: aldeias queimadas, assassinatos (incluindo crianças, mulheres e idosos), saques, estupros, roubo de crianças para serem "educadas" pelos métodos da Igreja, escravidão e perseguições que os levaram a migrar incessantemente por todo território nacional, abandonando seus espaços onde edificaram suas culturas, onde enterraram seus mortos, onde reverenciavam seus espíritos e divindades, tudo deixado para trás, desesperadamente, para fugir de seus piores algozes.

Qualquer crime era justificado pela "necessidade" de expandir as fronteiras desse país. E a cada novo surto de "desenvolvimento" novas levas de migrantes invadiam os sertões, difundindo o pânico entre as populações indígenas, cada vez mais escassas e indefesas. O gado se espalhava pelas pradarias, enquanto os ciclos da cana de açúcar, da borracha, do cacau, do café, do garimpo do ouro e diamantes, favoreciam a migração de nordestinos e gaúchos para o interior do Brasil, país nascente que se construía pelo terror.

Além dessas atrocidades difíceis de se imaginar, os "brancos civilizados" "ensinaram" os indígenas a se embriagar com cachaça, destruindo sua auto-estima e comprometendo o respeito que tinham por suas lideranças. Foram assassinados aos milhares, os corpos deixados a apodrecer nos escombros das aldeias, os sobreviventes fugindo desesperadamente em direção à selva, na esperança de encontrar um refúgio que, aos poucos, deixava de existir.

Para "construir" essa Nação chamada "Brasil" foram necessárias milhões de vidas roubadas de seres, humanos como nós, que aqui viveram durante séculos sem destruir a floresta, sem se matarem apenas pelo prazer de ver a dor de suas vítimas, como fizeram os portugueses e espanhóis para montar suas colônias. A documentação dessa tragédia, que não consta dos livros de história, é farta e rica em detalhes. Porém, basta um livro, de Darcy Ribeiro, para comprovar esse morticínio: "Os Índios e a Civilização", que, ironicamente, tem por subtítulo "A integração das populações indígenas no Brasil moderno"!

Se nos cadernos de anotação e nos livros de História do Brasil dos estudantes constam nomes como "Duque de Caxias", "Almirante Barroso", "Fernão Dias", "Borba Gato", "Raposo Tavares" e outros, que são reverenciados como "heróis" por terem "desbravado" os sertões ou por terem combatido as rebeliões de escravos e índios, onde estarão os nomes de suas vítimas, Indígenas e Negros trazidos da África? Não existem heróis entre os povos massacrados por essa "civilização" européia! "A História das Civilizações é a História dos Vencedores", já diziam os historiadores...

Mas se disserem, ainda, que todas as nações foram "edificadas" sobre os esqueletos dos povos dominados, aqueles que perderam a guerra e que ficaram também perdidos na memória dos homens, é porque não conhecem a história de nosso país. Aqui, a crueldade extrapolou todos os limites!

E hoje, como vivem nossos indígenas? Pois eles continuam sendo massacrados, desprezados, humilhados, torturados, assassinados. Nos dias atuais, dezenas de terras indígenas, legalmente demarcadas de acordo com a Constituição Federal, continuam sendo ocupadas e exploradas por madeireiras, garimpeiros, grileiros e todo tipo de escória humana que nosso povo insiste em "preservar" em nome da democracia e do poder.

Ainda hoje, políticos corruptos e ladrões tratam os indígenas como "animais sem alma", esquecendo-se que toda população brasileira e não indígena ocupa terras roubadas desses povos tradicionais. No sul do país, principalmente, onde as "missões jesuítas" criaram os "aldeamentos" para "cristianizar" os indígenas e para destruir suas culturas seculares, políticos sujos clamam pela extinção das terras indígenas e culpam a FUNAI por não permitir que acabem com o pouco que resta a esses povos tradicionais.

Quem, afinal, senão os indígenas e os quilombolas, seriam os Heróis e Mártires dessa Nação Brasileira, construída sobre o sangue derramado por esses povos? Quem negará que, em seu próprio sangue estão indelevelmente marcados os traços das etnias indígenas e negras, que seus antepassados geraram filhos do estupro dessas mulheres negras e indígenas? Quem negará, enfim, que só existe uma Nação Brasileira porque milhões de seres humanos foram as vítimas desses dominadores que continuam entre nós, mentindo, matando, estuprando, contaminando, viciando, humilhando, explorando?

Nossos Heróis, nossos Mártires não são os "soldados da pátria", mas apenas e tão somente negros e indígenas, que continuam sendo desprezados e ignorados por nós, e tratados como marginais de uma sociedade arrogante e sem dignidade!