Em 2009, uma das cheias recordes no rio Negro. Foto: Greenpeace/Rodrigo Baleia
Um ano depois da cheia recorde, uma das piores secas assolaram o rio Negro. Foto: Greenpeace/Rodrigo Baleia
“O mundo não vai acabar”, apressou-se em dizer o engenheiro agrícola da Embrapa, Eduardo Assad. “Mas se não avançarmos em questões estruturantes, o Brasil vai estar bastante vulnerável”. O aviso foi feito na tarde desta segunda-feira pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) – um organismo governamental formado por mais de 150 pesquisadores incumbidos de avaliar os impactos das alterações no clima em território brasileiro. O 1º Relatório de Avaliação Nacional foi divulgado pelo PBMC na 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas, em São Paulo.
Dias mais quentes e mais frios, aumento do nível e da temperatura do mar, mais tempestades, mais secas e mais enchentes. No atual ritmo global de emissões de gases estufa, nas próximas décadas eventos extremos como esses devem se tornar mais frequentes no Brasil. Mudanças no ciclo das chuvas também afetarão nossas bacias hidrográficas: o cenário é de que no leste da Amazônia e no Nordeste, a vazão dos rios possa diminuir entre 20% e 30%.
Isso significa mais que um desequilíbrio ecológico. Põe em dúvida também os planos do governo de apostar na região como principal fronteira de expansão energética, por meio de dezenas de projetos de hidrelétricas. “A estratégia de buscar energia nessas regiões pode estar ameaçado”, disse o cientista. “Já houve apresentações para autoridades do setor elétrico, que estão cientes deste cenário. E temos que ficar alertas para esse problema não só na Amazônia mas também em outras regiões”, complementou o engenheiro elétrico Emílio La Rovere, da Coppe/UFRJ.
A questão energética, aliás, ganhou relevância na discussão climática brasileira. Com a redução do desmatamento da Amazônia nos últimos anos, o setor de energia passou a frente nas emissões e atuamlente divide com a agropecuária o título de maiores emissores nacionais. E a tendência segue aumentando.
“Qual opção o Brasil vai fazer para nossa matriz energética diante desse cenário?”, questionou Assad. A resposta, o Greenpeace apresentou há algumas semanas no estudo [R]evolução Energética. “Se aproveitarmos entre 5% e 10% do nosso potencial solar, já seria suficiente para atender à atual demanda nacional de energia. A cogeração a partir do bagaço de cana geraria o equivalente a três usinas de Belo Monte, com muito menos impacto socioambiental. E a recente explosão da produção eólica no país tornou o preço da fonte muito competitivo”, listou a cordenadora de Políticas Pública do Greenpeace, Renata Camargo.
Com tantos dados disponíveis, só falta o governo fazer as opções certas. “Todos esses resultados [do PBMC] já tinham sido apresentados ao governo”, explica La Rovere. “O relatório ajuda a derrubar alguns mitos, como o de que você tem que ter recessão econômica para reduzir emissões”. Não tem.
“Os dados do PBMC trazem alertas e indicam caminhos para que o Brasil dê sua contribuição na luta contra as mudanças climáticas. Escolher fontes de energia renováveis, continuar reduzindo o desmatamento até zerá-lo e aperfeiçoar sua infraestrutura de transporte são alguns passos fundamentais nesse sentido”, aponta Renata. Mas as ações não podem demorar, pois a crise climática já está em curso, lembra o pesquisador da Embrapa: “Precisamos tomar decisões rápido”.
* Publicado originalmente no site Greenpeace.