quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

FELIZ FIM DO MUNDO!

Creio que ainda devo escrever uma mensagem aos meus caros leitores... afinal, amanhã, 21 de dezembro de 2012, o mundo irá se acabar, segundo oportunistas que se divertem com a crendice popular e o medo dos crentes... daqui a cem anos uma nova previsão desse tipo irá ocorrer, caso a humanidade não consiga evoluir para negar essas tolices: 21/12/2112 não lhes parece uma data singular?

Já escrevi sobre o fim do mundo quando da última "catástrofe" do ano 2.000; afinal, ouvi durante toda minha vida o apócrifo "1.000 passará; 2.000 não chegará!" - e muitos diziam isso com tamanha convicção que até parecia "estar escrito nas estrelas"! E 2.000 foi o ano do "Bug do Milênio", uma "profecia tecnológica" baseada na estupidez e incapacidade de previsão de analistas e programadores, que jamais imaginaram que seus sistemas de informação durassem o bastante para chegar ao final do século XX!

Torna-se difícil tratar dessas "lendas" criadas pela ignorância humana, pois todos os argumentos já foram exaustivamente explorados. Nem mesmo as evidências mais óbvias servem para demover esses cretinos dessa ideia estapafúrdia! Nem mesmo as sólidas argumentações científicas servem de apoio para se eliminar a crença: que sinal, que indício existiria na mente desses parvos para justificar uma ruptura tão brusca de todos os processos físicos do universo a ponto de eliminar, de uma só vez, toda população da Terra?

Só nos resta concluir que o mundo, o nosso planeta, a Terra está monótona demais para que nossas vidas possam ser vividas! Sim, pois nenhuma guerra de importância relevante abala as relações internacionais; nem Dilma e os latifundiários conseguiram "botar fogo na fogueira" da Amazônia; nem os pescadores japoneses conseguiram extinguir a vida dos tubarões, das baleias e das arraias gigantes a ponto de causar uma comoção mundial...

Talvez a bandidagem seja mais criativa e motivadora hoje do que o belicismo norte-americano! Sim, pois não é que o assunto mais "interessante" do ano foi o Mensalão??? Ou então o morticínio de bandidos e mocinhos na capital paulista? Nem mesmo a Síria ou o Irã conseguiram estimular o apetite da indústria bélica dos "irmãos do norte"! E continua a matança homeopática da população...

Pensei que poderíamos terminar o ano com acontecimentos trágicos, provocados pelo aquecimento global, mas o cenário ainda não está preparado para a catástrofe anunciada e teremos que esperar mais alguns anos para contemplar a hecatombe. E mesmo assim, será um processo lento, uma "fritada" que se consome aos poucos, intercalada com a "água na fervura" derramada pelos temporais...

Imaginei, então, a improvável mudança de rota de um satélite de Júpiter, ou um tresloucado anel de Saturno lançando-se ao espaço aleatoriamente, e dirigindo-se à Terra com uma velocidade alucinante, estimulada pela atração gravitacional do Sol e da Terra. Possível? Sei lá... não sou astrônomo e não pretendo lançar meus vaticínios em busca de leitores incautos, ávidos para encontrar uma justificativa passiva para uma overdose de adrenalina... parece que as boates de São Paulo já têm motivos melhores para a beberagem desenfreada antes do "fim do mundo", mesmo que este não aconteça!

Para muitos milhares de terráqueos, como já disse em outros momentos, 21 de dezembro será, de fato, o fim de seus mundos; morrem cerca de 300.000 seres humanos todos os dias! O curioso é que essa terrível mortandade não nos comove coletivamente, mas uma simples guerrinha, matando dez ou vinte pessoas por dia causa violentas reações das Nações Unidas! Por que será?

Posso imaginar até que alguns mais influenciáveis acabem por morrer prematuramente amanhã, com um fulminante ataque cardíaco! Mas ele não fará diferença na imensa solidão de seu gesto involuntário... afinal, superaremos esse dia com alguns acidentes ou crimes fatais, nada diferente de outros dias comuns... mortes que se acomodarão nas estatísticas das páginas policiais ou nos  enfadonhos relatórios médicos que sacodem famílias inconformadas com esses finais trágicos.

Mas nada disso nos abalará, e uma terrível frustração nos deixará de ressaca no dia depois de amanhã! Acordaremos atônitos com o Sol brilhando solenemente pela manhã do dia 22/12/2012, sacudindo nossa perplexidade pelo inusitado não-fim do mundo! O que teria saído "errado"? O que faremos então? Algumas piadas a mais no repertório popular, comentários jocosos sobre os crédulos que terão que enfrentar as filas da padaria, comprando o pão que o diabo ainda não amassou... e é só...

Para todos vocês os meus sinceros votos de um...

FELIZ FIM DO MUNDO!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

"Moço, me dá boas-festas?"


03 - CRIANÇAS de RUA e cachorro
Quando eu ainda era criança era comum baterem à nossa porta, na época de Natal, com esse pedido curioso: "Moço, me dá boas-festas?"... na minha inocência de criança, ingenuamente, eu pensava: “Boas Festas!”. Mas logo minha mãe entrava e buscava um prato de comidas bem farto e entregava a cada um dos pedintes, que comiam com gosto e vontade, agradeciam e iam embora. E lá ficava eu com meus botões, analisando, à minha maneira infantil, por que algumas crianças tinham ceias de natal, roupas novas, presentes caros, enquanto tantas outras perambulavam pelas ruas à espera da generosidade de tão poucos.
Muitas décadas se passaram, o Brasil se transformou, vieram ditadores, caudilhos, demagogos, prometeram "dividir o bolo" depois de fazê-lo crescer… e então disseram para o povo que a miséria havia se acabado, e que agora o “papai noel” (aquele patético velhinho da Coca-Cola!) entregaria presentes em todas as casas, de ricos e de pobres, e que ninguém mais morreria de fome, e todos teriam suas casas, iriam à escola e teriam acesso a tudo o que a modernidade pode oferecer! Sim, é verdade! Já não vemos mais mendigos nas ruas e nas praças, não há mais crianças batendo em nossas portas e pedindo ”Moço, me dá boas festas?”… o Brasil é um país do 1º mundo!
É… infelizmente, não dá para mentir… nem para acreditar em papai-noel... tudo continua na mesma… apenas os pobres perderam o que resta de esperança, e os ricos perderam o pouco que lhes restava de solidariedade e hoje bateriam a porta na cara dessas "crianças inconvenientes"! Será que toda verdade é "Inconveniente"?
Mas lá, na cidade grande, as ruas estão ricamente enfeitadas, vendendo sonhos que só os ricos podem realizar! Imensos “papais-noéis” tocam trumpete, bateria e saxofone em uma jazz-band na Avenida Paulista, enquanto as prateleiras e vitrines dos shopping centers estão repletas de brinquedos, bugigangas eletrônicas e roupas caríssimas. Enquanto isso, nas grandes empresas, funcionários bem vestidos e bem-comportados combinam “happy-hours”, e trocam presentes de amigos secretos em festas de confraternização… e entre abraços e beijos até parecem amigos, de fato!
Con-frater-nizar: o ato de se juntar (ou de se reunir) como irmãos; comemorar.
Poucos se lembram das origens do verdadeiro Natal, aquele da cisjordânia, com muito deserto e nenhuma neve! Mesmo aqueles que se dizem cristãos e se ajoelham nos genuflexórios das igrejas cobertas de ouro, não se recordam das mensagens de paz, amor, igualdade e justiça de seu Cristo socialista, o homem “filho de Deus” que veio à Terra para salvar o seu “rebanho”; aquele que se imolou na cruz quando percebeu que sua missão tinha fracassado porque o povo não se importava com seus ensinamentos.
Existe uma certa hipocrisia no Natal: primeiro essa figura grotesca e de mau gosto do “papai noel” travestido de garoto-propaganda da Coca-Cola; depois, a ausência completa do sentido religioso das festas de final de ano; e depois, o egoísmo dos presentes caríssimos para os mais próximos e o esquecimento de que uma horda de seres sub-humanos se arrasta pelas ruas das grandes e pequenas cidades implorando pelos restos de comidas das comilanças, para matar sua fome! E todos terminam suas festas nababescas se abraçando e desejando reciprocamente um “Feliz Natal!”…
Passa o tempo, e o ano se acaba num carnaval fora de propósito ou numa bebedeira sem limites e inconsequente; alguns fazem promessas para cumprir no ano seguinte, e assim a vida se esvai… olhando para o passado distante percebemos que nossa sociedade pouco se difere das sociedades de castas da idade média, dos senhores e dos escravos, dos barões e da plebe ignara… uma minoria privilegiada e arrogante, expropriando um grande contingente de pobres e miseráveis acreditando que, um dia, terão sua recompensa nos céus dos esquecidos... triste ilusão que as religiões dos ricos levam aos pobres para que eles continuem abastecendo suas mesas e geladeiras com os prazeres que aos outros será sempre negado.
E, à nossa porta, à porta de nossa consciência adormecida, bate uma criança quase desnuda, rostinho sujo, olhinhos remelentos, pedindo, quase em súplica: ”Moço, me dá boas festas?”… só que já nos esquecemos o que isso significa, e fechamos a porta, voltando felizes e sem remorsos para a nossa festa!

Boas Festas!