domingo, 4 de julho de 2010

E a corrida eleitoral começa igual

Foto de Emmanuel Pinheiro/AE - 06.05.2010 http://politica.estadao.com.br/

Quem já ouviu falar de Índio da Costa?

Hoje sabemos que é um deputado do DEM, o Democratas do ex-governador Arruda, do Distrito Federal (aquele do mensalão de Brasília!) e que agora é também o candidato a vice-presidente pela chapa do PSDB de José Serra. Quem assistiu à apresentação do novo candidato não pode deixar de perceber o constrangimento estampado na fisionomia de Serra. É claro! Esse é o segundo nome em importância na política nacional, caso o tucano seja eleito! E se por terrível desventura Serra não puder assumir o cargo? Ficaremos à mercê de um inexperiente desconhecido? O que o senhor Índio da Costa fará como Presidente da República?

É, no mínimo, uma tremenda irresponsabilidade do PSDB colocar esse senhor como candidato. Ele próprio, o senhor Índio, manifestou enorme surpresa por ter sido escolhido! Ninguém conseguiu disfarçar o constrangimento geral pela escolha desse nome. E não conheço o senhor Índio, como quase ninguém conhece. Dilma, pelo menos, tem Michel Temer como vice, pessoa de grande notoriedade pelo seu saber jurídico e pela extensa carreira política desenvolvida no PMDB. E Marina SIlva tem Guilherme Leal, presidente da Natura, empresa engajada na defesa e na preservação do meio ambiente!

Mas deixando de lado o descalabro da escolha do vice de Serra, a campanha começa igual: mesmas promessas, mesmas trocas de amabilidades que se tornarão ofensas no decorrer da campanha, mesmos conchavos para obter mais tempo na telinha, em detrimento de princípios, valores ou ideologias. Agora que a Copa do Mundo de Futebol acabou de forma lacônica, todas as atenções se voltam para as eleições.

E o que mudará nesse país depois das eleições? NADA!

Basta ver o que ocorreu depois da posse de Lula: a política econômica seguiu os passos do PSDB, inclusive com um presidente do Banco Central oriundo desse partido político, que foi o inimigo direto do PT de Lula. Basta ver o que vem acontecendo depois das eleições de Barack Obama nos EUA ("Yes! We Can!"). Sim, nós podemos nos iludir que tudo mudará com um ou outro candidato, mas nada acontecerá.

Porque?

Simplesmente porque nossas instituições políticas, econômicas, sociais e jurídicas são rígidas o bastante para obstar qualquer movimento revolucionário. Nenhuma promessa de transformação da sociedade, de igualdade, de redução da miséria e da fome resultará em sucesso, simplesmente porque a máquina governamental não é escolhida nas eleições! Mudam os políticos; esses, por sua vez, escolhem seus assessores ("staff" de confiança), que indicam nomes para a presidência e a diretoria das empresas estatais.

Esse processo em cascata chega até certo ponto da hierarquia e bate na rigidez da estrutura. Daí para a frente fica tudo igual. As promessas de campanha são rapidamente esquecidas, os compromissos com o eleitorado são substituídos pelos acordos entre partidos da bancado do novo governo, e as nomeações seguem um curso indesejado de "pagamento de promessas" para os apadrinhados dos novos hóspedes do poder.

Isso acontece com todo e qualquer partido político, com todo e qualquer candidato a Presidente, Senador da República, Governador, Prefeito, etc. Todos os níveis de poder são contaminados por uma "febre" de nomeações que avassala e destrói os chamados "planos de governo". Lula deu prioridade aos movimentos sociais? à reforma agrária? à igualdade de direitos entre os brasileiros, independentemente de raça, cor, sexo partido político ou religião? NÃO! Deu prioridade ao agronegócio, ao latifúndio, às grandes obras!

O que está errado é o sistema de governo. Enquanto houver "partidos" políticos haverá desavenças; onde houver desavenças, haverá interesses conflitantes e, consequentemente, privilégios a um ou outro lado. Esse É o problema: a Nação precisa ser maior que os interesses de seus cidadãos individualmente.

Assim, diante da realidade do mundo atual, só podemos afirmar que todas as crises econômicas serão resolvidas, mas quem pagará o preço será o povo, enquanto as elites usufruirão dos "benefícios" da "recuperação" econômica depois da crise. Os magnatas sempre sairão ilesos, mas o mesmo não pode ser dito da imensa maioria da população em todos os países afetados pela crise. Estes sempre pagarão a conta!

Quem tentar encontrar diferenças expressivas entre os dois candidatos mais fortes à Presidência irá se frustrar. Tanto Dilma quanto Serra vieram da militância estudantil; ambos estavam do mesmo lado do jogo durante todo o período de sua formação intelectual; no entanto, pensam da mesma forma "desenvolvimentista", ou seja, o desenvolvimento econômico da Nação deve ser realizado a qualquer preço, a despeito dos males e danos causados à classe trabalhadora e ao meio ambiente. Mais importante do que preservar o povo é preservar os mecanismos de poder político, econômico e social.

É assim que funciona nosso sistema de produção capitalista. É assim que será por mais quatro, talvez oito anos. E daqui a oito anos, em 2018 não saberemos quais as possibilidades de sobrevivência da base social da população, das minorias discriminadas e do meio ambiente. Curiosamente, essa multidão amorfa e disforme que constitui a maior parte de nossa população é quem dá legitimidade ao poder das elites!

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