sábado, 27 de novembro de 2010

O Fim de um Ciclo

Aqui termina um importante ciclo de minha existência, pois encerro hoje minhas colaborações para o debate político e ideológico. Se não fui compreendido é porque minhas idéias não contam com a aceitação popular. Embora eu não creia que a voz do povo seja a voz de Deus, até porque também não creio em sua existência, o fato de ter tão poucos adeptos significa que minhas mensagens não encontram eco entre meus leitores. Agradeço a todos que me prestigiaram com suas leituras, atenção e comentários e deixo aqui este blog, ativo conquanto disponível à leitura de quantos queiram acessá-lo, mas inativo porquanto não mais terá meus textos, bons ou maus, entre suas linhas inacabadas. Creio ter cumprido minha missão de propagar novos pensamentos, ter contribuído para o debate político, e ter manifestado sempre minhas convicções, sem temer as críticas e a ira dos mais conservadores, cujos interesses contrariei.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pagando Promessas

Toda eleição tem seu preço, e isso nós já sabemos. Mas quando as concessões são excessivas, o preço é alto demais para a Nação. Quanto terão pago, Dilma e o PT, para manter a coesão do PMDB e seu apoio à candidata nesta eleição? Não são apenas cargos e ministérios; são concessões ideológicas! E esse é o perigo de uma "democracia" baseada no poder econômico.

Sim, pois o dinheiro para uma campanha milionária é superior ao orçamento da maioria dos municípios brasileiros. Nós pagamos por isso! O que esperamos é que o preço não tenha sido tão elevado, mas é uma esperança vã, quase um desejo desesperado pela justiça que não virá, pois não foi a parte saudável do PMDB quem apoiou Dilma, e isto também nós sabemos.

Dilma já se comprometeu a conceder 30% de seus ministérios às mulheres. Seria esse o critério de justiça que irá nortear seu governo? Então, quantos ministérios haveriam de ser concedidos aos negros, aos católicos, aos evangélicos, aos indígenas, aos homossexuais? Certamente, as mulheres têm direito de participar de qualquer governo, mas já se tornou evidente que o sistema de cotas não é justo nem adequado à partilha de espaços.

Todos temos a tendência de simplificar as grandes questões nacionais adaptando-as às nossas realidades particulares, acreditando que dar espaço às minorias significa justiça e compensação pelos erros históricos havidos na formação do Estado brasileiro. Não é assim!

A justiça se faz pela igualdade de direitos na origem dos problemas e não quando eles já se manifestaram e as diferenças se tornaram irremediáveis! O momento certo de agir é sempre com as próximas gerações, quando elas eclodem na sociedade e não têm acesso às condições de saúde, segurança alimentar e escolaridade fundamental. É neste momento que as diferenças se manifestam de forma inexorável, maculando definitivamente a sociedade.

Pois agora, e a cada novo governo empossado, e a cada novo dia que nasce no horizonte, temos condições de intervir de forma contundente, modificando as condições que geram as diferenças. Intervir no processo educacional, no sistema de saúde pública, nos critérios de enriquecimento excessivo de nossas populações minoritárias em número, mas majoritárias em poder econômico, político e social. Taxar as grandes fortunas, controlar os imensos salários é uma das formas de reduzir as diferenças. Melhorar a qualidade do ensino público, pagando salários competitivos ao "mercado profissional das escolas privadas" é outra maneira.

Vivo em uma região esquecida pela mídia, pelos políticos e pelas populações privilegiadas do sul e sudeste deste imenso país. Quem se lembra (ou se importa) que aqui vivem nossas populações ancestrais, mais de 100.000 indígenas concentrados na Amazônia, passando fome, sem acesso a uma educação que lhes permita sonhar que um dia terão as mesmas oportunidades do resto da população deste país? São povos massacrados pelo nosso passado, pelas missões jesuíticas e seus aldeamentos, pelos evangélicos, pelas forças militares de Portugal, pelos fazendeiros que compravam escravos indígenas a preço de banana, pelos comerciantes inescrupulosos que os viciam no alcoolismo, pelos antropólogos sonhadores que tentam salvar a imagem romântica dos índios nus, caçando com arco e flecha, coletando frutos e sementes, pescando com lanças... o que será feito desses indígenas?

Pois aquelas promessas eleitoreiras que agora começam a ser pagas terão seu preço inflacionado pela ganância dos homens, ansiosos pela partilha da Nação. Breve ninguém se lembrará que houve uma mudança histórica, que o presidente Lula ficou no passado, que suas conquistas foram "vitórias de Pirro" e que o país continuará sendo governado pelas oligarquias políticas e econômicas, que a mídia continuará atendendo aos interesses dos poderosos, que os evangélicos continuarão crescendo seu "rebanho" e arrecadando os milhões que enriquecem nossos Edir Macedo´s, e que as minorias continuarão esquecidas.

Nem todas as promessas precisam ser pagas. Aquelas imorais, feitas no calor dos debates eleitorais, podem ser perdoadas em nome da Justiça Social, da moralidade e decência no uso do dinheiro público, em nome da redução do imenso fosso que separa as populações massacradas dos privilégios daqueles que nasceram em "berço esplêndido" e só por isso terão o direito de herdar as benesses do lucro fácil e das oportunidades que nunca chegarão aos párias dessa falsa sociedade democrática! Esse é o dilema que diferencia o Estadista...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Preconceito Social

Hoje, pela manhã, eu tomava café, como de costume, em uma galeria daqui de São Gabriel, comendo tapioca e um suco de abacaxi. Na mesa ao lado, um antigo funcionário da Funai conversava com um rico comerciante (o proprietário da galeria) e outra pessoa que não conheço, quando ouvi o seguinte comentário: "o concurso da Funai deveria ser regional; não tem sentido vir uma pessoa de São Paulo, que nem conhece a região, os costumes, a comida, e tomar o lugar de um morador daqui. Aliás, a Funai nunca fez nada mesmo para São Gabriel!..."

Bem, não participei da conversa, mas fiquei com meus pensamentos... afinal, eu poderia ter escolhido qualquer lugar para morar, pois minha classificação me permitia isso. Mas escolhi esta cidade porque acreditei que poderia fazer muito por esses indígenas que foram tão massacrados e humilhados ao longo da história, e hoje vivem como párias dessa sociedade, herdeira dos mesmos usurpadores, exploradores e traficantes de escravos que para cá vieram nos séculos XVI a XIX. Muitos desses comerciantes, a maioria de origem árabe ou nordestina, foram os algozes desse povo que vive na miséria e depende da Funai para sobreviver.

No início, foram os missionários Carmelitas, os soldados do reino de Portugal e os comerciantes; depois, foram os missionários Salesianos, os capangas de fazendeiros, os soldados e os comerciantes; em um terceiro momento, já no auge da ditadura militar, foram os soldados que aqui "protegiam nossas fronteiras" e construíam estradas, os empreiteiros da Queiroz Galvão, os missionários evangélicos e os descendentes dos comerciantes que aqui se estabeleceram.

Enquanto os missionários destruíam as tradições, as línguas, os costumes, as lendas e os lugares sagrados dos indígenas, soldados e comerciantes estupravam as mulheres indígenas, cujos parentes haviam sido capturados para servir de escravos nas fazendas dos nobres. Pois é um descendente desses "desbravadores" que julga saber o que deveria a Funai fazer para o bem dessa população que, desprovida de tradições e culturas, perdidas as conexões que a sustentava em uma sociedade solidária e igualitária, agora se embriaga pelas ruas de São Gabriel da Cachoeira, à vista de todos, humilhada e desqualificada socialmente.

Eu já passei por esse tipo de preconceito outras vezes, por sociedades que se envergonham de ser brasileiros e que, por isso, ainda alimentam o desejo de se tornarem independentes. Quando me mudei para Recife, fui escolhido por um empresário pernambucano em uma lista de cinco candidatos, três de Recife e dois de São Paulo. Na primeira oportunidade que tiveram, jogaram-me na cara que eu era o usurpador de empregos que, por direito, pertenciam aos pernambucanos. Afinal, o que nós, paulistas, tínhamos a mais que eles? Deveriam perguntar ao empresário que me escolheu.

Um dia, em um almoço em minha homenagem, tive que ouvir uma série de discursos de críticas contumazes contra os exploradores paulistas, "amenizados" pela afirmação de que eu já podia ser considerado pernambucano, uma vez que morava há vários anos em Recife. Ao final dos discursos deram-me um recorte de jornal com uma reportagem de página inteira, cujo tema era a "Confederação do Equador", movimento separatista do século XIX.

Pois existem outros casos, como o preconceito dos sulistas, principalmente do Rio Grande do Sul, que nos consideram, a todos os demais brasileiros, toscos demais para pertencer à estirpe gaúcha. Certa feita, indo a Porto Alegre a serviço, recebi, em um jantar, um exemplar do livro "A História do Povo Gaúcho", um libelo nada discreto em defesa da emancipação política dos três estados sulistas, antiga reivindicação desses "brasileiros": a "República dos Pampas" e a "Revolução Farroupilha"! No Rio Grande do Sul, principalmente, um dos mais arraigados costumes regionais é dos Centros de Tradições Gaúchas, os famosos CTG.

Há quem defenda, entre as organizações e federações indígenas, principalmente da região oeste da Amazônia, a emancipação de suas Terras demarcadas; essa idéia, alimentada por incendiários ideológicos, ignora a total dependência desses povos das ações assistencialistas do Estado Brasileiro. É, portanto, muito difícil falar em emancipação quando a sociedade não se estruturou adequadamente para sobreviver com seus próprios recursos. Além do mais, há um grande interesse internacional, discretamente manifestado, de internacionalização da Amazônia; e as Terras Indígenas, com sua autonomia legalizada, é o alvo predileto dessas ações, capitaneadas por ONG´s "desinteressadas" e "humanitárias".

Outro dia eu conversava com alguns antropólogos e comentei, sem nenhuma pretensão dialética, o fato de os indígenas brasileiros não estarem preparados para competir, intelectualmente, com as populações "brancas" e caucasianas, de origem européia. Minha intenção era apenas de constatar um fato óbvio: o de que os indígenas, maltratados e humilhados por centenas de anos, vivem hoje em total dependência das verbas e programas de ajuda da Funai, da Funasa e do MEC. Mesmo com algumas brilhantes mentes inseridas nos meios acadêmicos, e assistidas por organizações internacionais de pesquisa, via de regra, as aldeias do Alto Rio Negro ainda vivem em estágios primários de sociedade.

Pois esses antropólogos mal saídos das universidades, se rebelaram violentamente contra mim, alegando meu despreparo intelectual para discutir temas de sua (deles) competência. Ficaram escandalizados! E eu, estupefato com a atitude radical e reacionária desses indivíduos. Continuo defendendo meus princípios, que não são acadêmicos, mas de cunho pessoal, sem nenhuma pretensão intelectual senão a de manifestar o meu direito de pensar e discordar.

São esses preconceitos sociais que transformam nosso mundo em um lugar difícil de se viver, onde as vaidades pessoais sobrepujam os anseios coletivos, e a arrogância intelectual rejeita tudo o que não está contido nos compêndios acadêmicos, geralmente escritos por estrangeiros, e versando sobre nossa realidade. Será que essas "mentes brilhantes" se esqueceram de sua própria história de dominação e terror?

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Sra. Presidente Dilma Rousseff,

Falo como quem não votou em seu nome, e nunca votaria em José Serra. Fui defensor de Marina Silva como uma alternativa de governo que nunca foi tentada neste país, mas que deveria ser considerada por quem ama a terra em que nasceu e acredita no ser humano como uma criatura possível no concerto geral deste universo atribulado por tanta miséria e desgoverno.

Até hoje a humanidade sempre procurou alternativas para conceder o poder e as riquezas para poucos em detrimento da maioria. À senhora que, como eu, lutou contra a ditadura militar, mesmo sabendo que na relação de forças não tínhamos a menor possibilidade de vitória, e que, por idealismo e convicção, mesmo assim perseverou na defesa de seus ideais, peço-lhe apenas um minuto de sua atenção, antes que sucumba de vez nos labirintos do poder.

Nas barganhas dos cargos e dos Ministérios, guarde uma vaga para o bom-senso, e destine, pela primeira vez na história, a Agricultura para os pequenos agricultores, esses que representam mais de 95% de todos os trabalhadores rurais desse país imenso. Não entregue o poder para os ruralistas, esses que querem apenas se enriquecer, produzindo soja, gado e cana de açúcar para abastecer os celeiros do mundo, deixando a mesa dos pobres vazia.

Reserve o Meio Ambiente para quem luta por preservar as belezas desse planeta, suas águas e as florestas, seus animais e as paisagens para que nossos filhos, nossos netos, seus netos, tenham algo para se maravilhar e viver. Deixe um pouco do que resta para as futuras gerações e não para aqueles que ambicionam os domínios intermináveis dos latifúndios vazios.

Leve consigo, para as outras pastas, a Educação, a Saúde, os Transportes, Minas e Energia, pessoas que sonham com um mundo melhor e menos consumista, onde todos (todos mesmo) possam ter suas vidas dignas e não consumidas no desperdício e no desprezo pelos pobres.

Senhora Presidente, seja, antes de tudo, humilde; visite todos os rincões desse país e não apenas aqueles que lhe deram os votos da vitória, mesmo que sejam tão vazios e distantes que apenas os indígenas os estejam habitando. Veja com seus olhos a imensidão de nossas florestas, de nossos rios, a riqueza que eles guardam para um futuro que só acontecerá se alguém cuidar para que isso aconteça. E apenas a senhora poderá fazê-lo.

Não espere que as alianças espúrias que fez lhe garantam a tal "governabilidade". Tenha a coragem e a ousadia de decidir pelas gentes de nossa Nação, a despeito dos partidos políticos, cada vez mais corruptos, cada vez mais distantes dos nossos anseios populares.

Senão, para que terá valido sua luta revolucionária? Lembre-se de seu idealismo como estudante, que enfrentou as armas dos exércitos, os porões da ditadura, apenas para viabilizar um mundo melhor, mais solidário, mais justo e honesto. Traga de volta seus sonhos estudantis, ainda não contaminados pelas ambições políticas, e pense em seu povo, pois foi este quem a elegeu com seus milhões de votos! Rompa essas alianças estúpidas e acredite em seu poder.

Senhora Dilma Rousseff, não repita a hipocrisia do passado! Leve consigo poucas propostas, mas apenas as efetivas, importantes de fato, que possam modificar para sempre a fisionomia deste imenso país, de recursos (quase) inesgotáveis. Não deixe que eles se acabem!

Ainda existem pessoas do bem, preocupadas e solidárias, aquelas que votaram em Marina Silva apenas pelo que ela representou para todos nós, uma via diferente, não baseada no Capitalismo Selvagem em que vivemos, mas na busca de alternativas Sustentáveis, que possam preservar a Vida, a Beleza e a Permanência do Homem sobre a Terra.

Este é o meu pedido sincero, senhora Presidente!

Resultado esperado

Prevaleceu a lógica e Dilma se elegeu.

Não foi um resultado bom, mas o possível diante de tantas incertezas políticas e de um sistema de eleição viciado e ineficiente. A cada dois anos o Brasil pára e acompanha eleições que apenas corroboram a necessidade de mudanças profundas, seja no sistema de governo, seja na Economia, atrelada a ele. Trocam-se os governantes, mas a sociedade não percebe mudanças.

De que servem tantos partidos políticos se eles se aglutinam nas eleições e se amarram aos vencedores e perdedores, restaurando a dualidade do poder? Antes, eram Arena e MDB; depois, PDS e PMDB; a seguir, esses partidos se esfacelaram: tanto a "direita" como a "esquerda" se romperam em dezenas de siglas, cujos conteúdo ideológico não se diferenciava a ponto de permitir escolhas ou opções relevantes. Hoje é o PT de um lado e PSDB de outro. Muitos pensamos que, um dia, esses dois partidos estariam do mesmo lado.

Mas isso não aconteceu, e a tragédia foi que as sucessivas crises éticas e morais também destroçaram a confiança da população na existência de partidos limpos de fato. Eles não existem. Por isso, siglas como o DEM e o PMDB optaram por não mais lançar candidatos e oferecer suas estruturam políticas regionais para garantir a "governabilidade"... foi um tiro no pé dos partidos socialistas!

Seja quem for que se instale no poder, terá que se subordinar a esses partidos inescrupulosos e corruptos para a fromação de seu staff de ministros. É o que aconteceu desde que a ditadura militar cedeu o poder aos civis, em 1985. Os ministérios mais importantes não ficam com o partido vencedor, mas com seus "aliados": Transportes, Minas e Energia, Educação, Saúde, Agricultura... cada um "pega um pedaço"; e sobra para o presidente compor esse mosaico multicolorido e multifacetado de parcelas do poder, sem coesão interna e sem harmonia de gestão, indispensáveis para a condução dos rumos do poder.

E quem vence nas urnas fica com a impressão da vitória, mas os verdadeiros vencedores são aqueles que nem apareceram na TV no horário eleitoral: ficaram na retaguarda, articulando essa divisão estratégica do poder, que garantirá que o mandatário maior do país seja simplesmente a "rainha da Inglaterra", ungida com o manto real, mas desprovida de qualquer parcela de autoridade perante seus súditos enganados.

A senhora Dilma Rousseff nem poderá dizer que venceu esta eleição, pois este mérito cabe única e exclusivamente a seu criador, o presidente Lula, com o apoio estratégico dos marqueteiros de campanha, verdadeiros maquiadores a transformar a imagem de uma mulher rude e desajeitada em uma dama habilidosa e matreira, capaz de até vencer um debate na TV. O que virá depois de 31 de dezembro? Será que esta fera despertará da letargia e se libertará se seu criador? Que parcela de poder ela ainda tem para manobrar as peças do tabuleiro? Poderá conter a gana revanchista do PSDB, alijado por mais quatro anos da arena política? Dilma retomará sua postura inflexível que a tornou conhecida como a "dama de ferro" da política barsileira? O que será do PAC, um programa de retalhos sem coesão interna?

Muitas dúvidas restam por se responder, mas ficaremos em suspensão até que o primeiro jogo de dominação esteja concluído: a escolha do Ministério. Saberemos, então, quem dará as cartas e também se Dilma teve força suficiente para romper os compromissos irreveláveis do poder. Seguindo a lógica das últimas eleições, desde a morte de Tancredo Neves e a ascensão de José Sarney, nossas expectativas não podem ser muito alvissareiras...

Mas há quem ainda se empolgue com essa farsa e acredite que vivemos em plena democracia. É difícil se iludir a tal ponto, sabendo das grandes disparidades sociais e do abismo existente entre as diversas regiões do país. Mais ainda, é difícil acreditar em um governo voltado para as ações sociais onde quem manda de fato é uma minoria descarada, cujos propósitos são, única e exclusivamente, a ganância e a dominação econômica.

Dessa corja fazem parte os grandes banqueiros nacionais, os mega-fazendeiros do agronegócio, as empresas de mineração, as empreiteiras de grandes obras públicas (sempre as mesmas), a grande mídia capitaneada pela Rede Globo, e um poder oculto mas cada vez mais atuante, das religiões ditas cristãs: os católicos, que sempre estiveram ao lado do poder, e agora os evangélicos, multifacetados em pequenas ou grandes seitas doutrinadoras.

Parece incrível, mas esses grupos, que representam os interesses de uma insignificante minoria numérica, detêm o poder econômico em quase sua plenitude, detreminando, por isso, os destinos de nossa combalida Nação. Não temos uma democracia, nunca teremos. E com Dilma não será diferente, pela simples razão de que nada mudou nesse país e nessa eleição.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A escolha difícil

Conforme havíamos previsto em crônicas anteriores, Dilma será, provavelmente, a nova inquilina do Palácio do Planalto. Embora não conte com nossa simpatia e apoio, a candidata do PT tem muito mais qualificações para assumir a Presidência da República do que o tucano Serra.

Isto porque Lula, que a apóia, representou, para o Povo Brasileiro, uma promissora redenção em suas políticas públicas que favoreceram a ascensão das minorias à condição de dignidade social, e à grande e empobrecida maioria, alguns degraus que a afastou temporariamente da pobreza e da fome. Assistencialismo e imediatismos à parte, essa "proteção" contra a miséria, vinda através do Bolsa Família, era uma necessidade imperativa, enquanto medidas mais efetivas e duradouras não pudessem vir a afeito.

As habilidosas e inteligentes negociações de Lula e de sua equipe de Diplomatas conseguiram evitar que a maior crise do Capitalismo desestruturasse todas as conquistas sociais obtidas nesses últimos 10 anos. Isso ocorreu porque nosso mercado externo passou pela maior guinada de sua História, reduzindo a importância de parceiros tradicionais, fortemente atrelados ao Euro e ao Dolar, e buscando a parceria de outros países emergentes, como a China e a Índia, além dos países africanos e do Oriente Médio.

Lula também acelerou o processo de demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, e de assentamento de trabalhadores rurais, dando o primeiro passo para o resgate desssas populações, que foram as maiores vítimas do Colonialismo português, no pior genocídio que maculou a História do Brasil, de Portugal e de sua aliada, a Inglaterra.

No entanto, apesar de tantas conquistas sociais importantes, o governo Lula não conseguiu reverter o processo de destruição sistemática da Floresta Amazônica, deixando um vergonhoso rastro de devastação provocado pelas alianças espúrias do PT com a famigerada Bancada Ruralista, para quem só importa o enriquecimento fácil da exploração e da exportação de soja, da criação de gado bovino e dos subprodutos da cana de açúcar.

Marina Silva, nossa candidadta à Presidência, não conseguiu, contudo, conter a fúria destruidora do  Latifúndio e das monoculturas, que destroçaram, desgraçadamente, grande parte do Cerrado do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, e também extensas regiões da Floresta Amazônica nos estados do Pará, Rondônia e Acre.

Na visão Desenvolvimentista embasada pelo anacrônico e decadente Neo-Liberalismo, DIlma e Serra não se diferenciam; isso nos leva a crer que os próximos quatro anos, pelo menos, serão desastrosos para o Meio Ambiente, conduzindo-nos a uma situação crítica de sobrevivência de nossos principais biomas, os mais importantes do Planeta em extensão e biodiversidade. Principalmente para as bacias hidrográficas do Amazonas e do São Francisco, fontes de irrigação de uma gigantesca extensão territorial brasileira.

Será uma perda irreversível, dada a fragilidade dos solos amazônicos, e um grande risco para a sobrevivência da raça humana. Quem será o responsável por essa hecatombe: Dilma ou Serra? No próximo final de semana conheceremos o nosso algoz!

domingo, 17 de outubro de 2010

Marina cobra mais consistência na discussão entre Dilma e Serra

Flávia Tavares - "O Estado de São Paulo" - 16 de outubro de 2010
Senadora inaugura nova ‘barganha’ eleitoral e quer compromissos em vez de cargos, mas vê ‘desenvolvimentismo’

SÃO PAULO - Foi ela quem levantou a bandeira do meio ambiente no primeiro turno e, agora, é ela quem luta para mantê-la hasteada. Enquanto Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fingiam que o tema tinha saído da pauta, Marina Silva (PV) pressionou os presidenciáveis a se posicionar mais claramente no que se refere à sustentabilidade e, ainda que não inteiramente, condicionou seu apoio a algum deles à adesão a sua agenda ambientalista.
Mas ela não se ilude. Sabe que, por um lado, inaugurou uma nova modalidade de "barganha" eleitoral, ao exigir compromissos em vez de cargos em troca de seu consentimento. Por outro, percebe em Dilma e Serra muito mais disposição ao desenvolvimentismo - ou, como dizem alguns de seus assessores, ao "crescimentismo" - do que ao ambientalismo. "Mesmo no primeiro turno, as duas campanhas não se ativeram à temática do meio ambiente. Ela aparecia apenas dirigida a mim, já que isso é uma prioridade da nossa plataforma de governo. Não aparecia pela minha interação com os outros candidatos", lembra a candidata do PV.
Importante. Para Marina, depois de seus quase 20 milhões de votos no dia 3 de outubro, ficou claro que os brasileiros consideram a sustentabilidade um tema importante. "Pela primeira vez, houve um ensaio político para referenciar uma proposta de desenvolvimento baseada na sustentabilidade. Proposta que teve um respaldo muito grande em termos eleitorais, mesmo que as pessoas não tenham uma compreensão mais aprofundada da questão", disse a senadora.
Ela sabe que nem todos os que votaram nela o fizeram somente pela cor de sua bandeira. Ainda assim, acredita que esse recado dos eleitores obrigará partidos e lideranças políticas a dialogar sobre meio ambiente com mais frequência e consistência. "Pode ser que o tema ainda não seja tratado com muita profundidade pela sociedade, mas outras questões também não são." Ela compara: se nem todos têm clareza do que é um bom sistema de saúde, é certo que todos querem um bom sistema de saúde ou anseiam por uma boa educação, mesmo sem entender bem qual seria a reforma ideal do ensino.
A expectativa de Marina é de que no tempo que resta até o segundo turno os candidatos se dediquem a discutir sustentabilidade. "As candidaturas que se apresentaram, na oposição e na situação, têm uma visão desenvolvimentista. Há a oportunidade agora para que essas questões possam ser mais bem tratadas nos debates e nas campanhas."

Em busca do apoio do PV, candidatos assumem compromissos ambientais

Herton Escobar - O Estado de S.Paulo
Marina Silva não passou para o segundo turno das eleições presidenciais, mas conseguiu fazer aquilo que muitos esperavam de sua candidatura: inscrever a sustentabilidade na agenda política nacional.

Nacho Doce/Reuters-15/10/2010
Pioneira. Com a força de seus 20 milhões de votos, Marina Silva acha que o tema ambiental deverá ser discutido com mais frequência a partir de agora
Pressionados pelos 20 milhões de votos obtidos pela candidata do Partido Verde (PV) no primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não podem mais se dar ao luxo de ignorar questões ambientais consideradas prioritárias pelo eleitorado "marineiro", como o combate ao desmatamento e a proteção ao Código Florestal.
O Estado enviou aos dois candidatos uma série de perguntas relacionadas a alguns do principais debates ambientais do Brasil. Todas elas, também, abordadas na lista de 42 compromissos essenciais apresentada pelo PV como base para definição de um eventual apoio do partido a uma - ou nenhuma - das candidaturas. A decisão será votada hoje em assembleia do partido.
Um dos temas considerados mais críticos é a reforma do Código Florestal, que estipula regras e limites para a ocupação de áreas de vegetação nativa. Em resposta ao Estado, ambos se disseram contrários à anistia a desmatadores, prevista no relatório de Aldo Rebelo (PC do B), aprovado por uma Comissão Especial da Câmara em julho.
A assessoria da campanha tucana afirmou que Serra considera a anistia "inaceitável". "Mas também não se pode imaginar que áreas de agricultura consolidadas há décadas tenham que ser abandonadas, pois isso vai afetar a produção e o emprego rural", completou. Serra se coloca contra a redução das áreas de preservação obrigatória previstas no código. Propõe o pagamento por serviços ambientais.
O candidato se compromete a resolver o impasse no primeiro semestre de seu governo. "Ambos os lados, ambientalistas e ruralistas, precisam compor uma posição de consenso que equacione os principais problemas dessa agenda no campo", disse.
"Sou a favor do veto a propostas que reduzam áreas de reserva legal e preservação permanente, embora seja necessário inovar em relação à legislação. Sou favorável ao veto à anistia para desmatadores", afirmou Dilma. 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Questão ambiental ganha força por apoio de Marina

Sem histórico de militância na área, Dilma e Serra pouco falaram sobre o tema, que pode ser determinante para eleitorado verde (Fonte: "O Estado de São Paulo")
A preocupação com a questão ambiental foi, durante todo o primeiro turno, o eixo dos pronunciamentos e propostas da candidata Marina Silva, do PV. Mas passou quase em branco nas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Agora, quando os dois correm atrás dos votos do eleitorado de Marina, o tema vai subir de status.

Entre os eleitores verdes, uma das preocupações é verificar qual dos dois candidatos tem propostas mais próximas das que foram apresentadas por Marina. Diferentemente da ex-seringueira e ex-ministra do Meio Ambiente, nem Dilma nem Serra têm histórico de militância na área ambiental.

"Ambos ainda têm dificuldade de conjugar os verbos desenvolver e preservar numa mesma frase", diz o coordenador de políticas públicas do Greenpeace, Nilo D’Ávila.

Nos tempos em que eram colegas de governo, Marina, na pasta do Meio Ambiente, e Dilma, na Casa Civil, ficavam frequentemente em lados opostos. Vista por muitos ambientalistas como um trator do desenvolvimento a qualquer custo, Dilma não tolerava os questionamentos e as ressalvas do pessoal de Marina sobre licenciamento ambiental de hidrelétricas e outras obras de infraestrutura na Amazônia.

"Claro que é normal cobrarem agilidade nos licenciamentos. O que não é normal é desqualificar a questão ambiental como um entrave ao desenvolvimento", diz uma fonte próxima ao governo, que presenciou os embates internos naquele período.


Nas discussões sobre planejamento energético, Dilma, que antes de assumir a Casa Civil foi ministra de Minas e Energia, desdenhava do potencial de fontes renováveis, como eólica, solar, e até da biomassa de cana.

Na questão climática, foi refratária à adoção de metas para a redução das emissões nacionais de gases do efeito estufa, apesar de ter sido a representante do Brasil na malfadada conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, em Copenhague, no fim de 2009, quando a meta foi finalmente anunciada.

"A principal característica (de Dilma) é ainda considerar a questão ambiental como uma restrição e não oportunidade. Todo o resto é consequência disso", avalia Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. "A conservação é vista como um mal necessário, um problema que precisa ser resolvido para não atrapalhar o desenvolvimento, e não como parte da solução."

Ferramenta. Serra, segundo Smeraldi, já consegue enxergar as questões ambientais como uma ferramenta socioeconômica de promoção do desenvolvimento sustentável. "Acho que foi a mudança climática que fez com que ele enxergasse o tema de outra maneira", diz.

À frente do governo de São Paulo, Serra criou no ano passado a Política Estadual de Mudanças Climáticas, com a meta de redução de 20% das emissões paulistas de gases do efeito estufa até 2020. Foi o primeiro Estado brasileiro a assumir um compromisso desse tipo em lei.

"Ele viu a meta como uma maneira de impulsionar a modernização da indústria, não apenas como uma bandeira ambiental", avalia Smeraldi.

Para Nilo D’Ávila, do Greenpeace, ainda que Dilma tenha batido de frente com Marina no passado, um eventual governo petista teria mais facilidade para adotar uma agenda ambiental proativa, com base na bagagem deixada pela própria Marina. "O PT pode fazer um resgate rápido de planos do passado que têm a digital da Marina. O PSDB terá dificuldade maior."

D’Ávila acha que os tucanos titubeiam em temas cruciais, como o Código Florestal. O Greenpeace enviou um questionário com perguntas sobre o tema a cada candidato, e as respostas foram protocoladas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "A Dilma é mais direta; vai direto ao ponto e diz que é contra a anistia a desmatadores, por exemplo", relata D’Ávila. "O Serra não aperta a tecla até o fim. É um tema sobre o qual não dá para ficar em cima do muro."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Marina Silva, a grande vencedora

Nem Dilma, nem Serra. Marina venceu as limitações de seu partido, a falta de alianças e conseguiu, em sua breve campanha, crescer de 7% para quase 20% do eleitorado! Se tivesse a estrutura do PT ou do PSDB, certamente teria levado esta eleição no primeiro turno! Agora, entra em conflito com a direção do partido, questionando uma adesão hipócrita ao PSDB, sem pleitear qualquer posição dentro do novo governo.

Dilma foi quem mais perdeu: tinha a eleição ganha até o último debate, quando fugiu declaradamente do enfrentamento a seu opositor direto. Sua inabilidade política e falta de carisma coloca, agora, sua eleição em risco, e depende da decisão de Marina Silva para garantir sua eleição. Serra se considera vencedor por ter ido ao segundo turno, mas nada fez para consegui-lo, foi Marina quem tirou votos da petista e não Serra quem cresceu diante de seu eleitorado.

Os próximos passos serão decisivos: se o PV criar juízo e deixar Marina negociar sua participação no novo governo, terá a oportunidade única em sua história de definir os rumos da eleição e ter pelo menos dois ministérios: Meio Ambiente e algum outro menos representativo no gabinete de qualquer dos dois candidatos. Se o PV mantiver seu apoio incondicional ao PSDB correrá o risco de não ter nenhum ministério, além de perder o apoio de Marina que, neste caso, permanecerá neutra, ou talvez abandone o PV.


Seja como for, Dilma ou Serra, qualquer um vencerá com o gosto amargo da derrota, tendo dependido de um pequeno partido para se eleger. Quem ganha, contudo, é o Brasil, que terá o peso de uma grande ambientalista na decisão política mais importante do país.

Esperemos para ver o desenrolar dos acontecimentos, mas torcendo para que os Verdes não joguem essa oportunidade no lixo de sua própria História!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O Significado da Vitória de Dilma

Às vésperas das eleições já fica evidente a vitória de Dilma Rousseff, ou melhor, de Luiz Inácio Lula da Silva, o grande mentor da candidata petista e único responsável pelo seu desempenho espetacular. Muitos diriam: "é prematuro falar em vitória às vésperas das eleições"! Mas o fato é que o PT levará a presidência, provavelmente no primeiro turno, pois tem sido, historicamente, o partido mais combativo nas bocas de urna. Seja como for, Serra não ganha no segundo turno e isso é praticamente irreversível.

Mas o que significa essa "Vitória de Pirro" para os brasileiros? Quais as consequências de mais quatro, talvez oito anos de hegemonia petista no poder central? O que mudou em nossa sociedade nos últimos oito anos e que nos faz crer em um processo planejado, arquitetado pela cúpula dirigente do PT? Falamos em Lula, mas também em José Dirceu, em Antônio Palocci, José Genoíno, na própria Dilma Rousseff...

Para entender melhor o sentido desse processo "socialista" precisamos compreender os rumos do socialismo nacionalista da América Latina, principalmente de Evo Morales e Hugo Chávez, cujo tom determina uma transformação social talvez não adequadamente analisada pelos cientistas políticos: a ascensão ao poder de representantes populistas e de movimentos sociais vinculados às lutas pela posse da terra e pela ascensão de minorias étnicas vítimas dos processos históricos desses países. Talvez Lula tenha sido o menos representativo desses novos líderes, mas com certeza o mais influente e o mais bem sucedido.

Dilma, porém, é a incógnita. Mesmo tendo sido guerrilheira e lutado pelas liberdades democráticas durante o regime ditatorial dos militares brasileiros, Dilma não se identifica com nenhuma corrente populista de nosso país. Muito pelo contrário: talvez hoje esteja mais à direita do que o próprio José Serra, e tenha a simpatia da Bancada Ruralista e dos Desenvolvimentistas, dada sua predileção pelas grandes obras de engenharia que caracterizaram sua administração frente ao Ministério de Minas e Energia e como gestora do PAC.

As alianças políticas do PT com o que há de mais retrógrado neste país, como o PMDB, o PTB e o PCdoB compelmentam essa visão pessimista dos destinos de nossa política interna: até que ponto podemos esperar mudanças na condução da Economia? E que alento podem ter os Ambientalistas com uma presidente que foi a grande responsável pela saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente? É uma visão sinistra, mas realista do futuro político da Nação com Dilma Rousseff à presidência.

Lula, com toda sua deselegância intelectual, contava com a simpatia do mundo pelo seu jeito caboclo de dizer o que pensava, rompendo as regras cerimoniais do ritual diplomático e forçando líderes do porte de Barack Obama a manifestar sua admiração pela coragem e audácia de nosso Presidente. E Dilma? O que ela tem para oferecer no concerto das nações, diante de um momento complexo e instável, caracterizado pela incoerência dos países poderosos em se recusar a admitir a crise econômica, energética e ambiental?

Dilma não tem carisma, nem jogo de cintura para driblar as crises políticas, mesmo as internas; mas viverá um "inferno astral" com a divisão de forças conservadoras entre a oposição e o governo. Lula, em seu desdizer permanente, confundia a oposição, que sequer sabia identificar o seu território; e a maior evidência dessa perplexidade foi a campanha eleitoral, onde a equipe de Dilma, ou seja, de Lula, encampou todas as teses da oposição e neutralizou até mesmo os ataques pessoais mais medíocres da equipe de Serra.

Como Dilma enfrentará o poder assim dividido? Como encaminhará as mensagens mais polêmicas que implicam em reformas profundas do sistema político, previdenciário e fiscal brasileiro? Muitos diriam que essas reformas já tramitam desde FHC e que, portanto, não seriam assim tão urgentes e necessárias. Mas o PAC é um "programa" que só serviu para dara a vitória a Dilma, e as grandes obras só poderão prosseguir até saturar a capacidade de investimento do país. Além disso, o "pré-sal" apenas amadurecerá a longo prazo, sendo, por enquanto, um sorvedouro de recursos insaciável para a Petrobrás.

Se a oposição não teve competência para vencer essas eleições, certamente passará por um processo de revisão profunda, a menos que aceite ser alijada para sempre do comando da Nação. Portanto, Dilma enfrentará uma oposição mais forte e menos dividida nos próximos anos e terá que justificar sua presença no Planalto, pelo menos por quatro longos anos. E o Congresso não seguirá o mesmo caminho das urnas e o poder deverá estar mais dividido e mais instável nas casas legislativas.

No cenário internacional, a Europa ainda passará pelos rescaldos da crise, assim como os Estados Unidos e o Japão. No entanto, a China continua em seu caminho de dominação e deverá liderar a economia mundial na próxima década, deixando o Brasil apenas com a função medíocre de prover matérias primas para que a China cresça sob nossas barbas. Nossa opção histórica pelos produtos primários se mostrará trágica em futuro próximo, e nem o "pré-sal" nos resgatará do naufrágio. Esse talvez seja o grande desafio de Dilma e do PT.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

São Gabriel da Cachoeira

A cerca de 900 km de Manaus (mais de 1.000 km por rio), em direção à Colômbia, fica São Gabriel da Cachoeira, município com quase 40.000 habitantes, dos quais 35.000 são indígenas pertencentes a 25 etnias. A maior parte desses indígenas habita as quase 750 aldeias e comunidades espalhadas por um território quase do tamanho do estado de Minas Gerais.

A cidade de São Gabriel da Cachoeira não tem acesso por terra; apenas a Trip oferece vôos diários de Manaus; a outra alternativa são os barcos que sobem o rio Negro e levam de 2 a 5 dias de viagem, dependendo da época do ano, para chegarem aqui. É um lugarejo completamente inserido na floresta amazônica, coberto de árvores que, no entanto, não diminuem o intenso e úmido calor do Equador, que bate nas pessoas como uma ducha de água quente. Ninguém consegue ficar muito tempo ao sol, nem mesmo os nativos. A temperatura gira em torno de 35ºC, mas a sensação térmica é de quase 50ºC.

Nesta época, um imenso enxame de borboletas invade a cidade todos os dias, ao entardecer; milhões de insetos voando todos para a mesma direção, da mesma espécie, com uma coloração externa de um marrom intenso e, internamente, de um roxo profundo e aveludado. Um espetáculo inesquecível! Depois elas se aqueitam e surgem bandos de andorinhas, fazendo suas acrobacias pelos céus até que a noite se aproxima e tudo se aquieta.

São Gabriel não é uma bela cidade, nem acolhedora, mas tem suas virtudes: pacata, não se ouve falar de crimes na região; os indígenas são extremamente humildes e quietos, quando sóbrios, pois costumam se embriagar com frequência, com sua bebida predileta: o caxiri, espécie de destilado da mandioca, muitas vezes "enriquecido" com cachaça 51, de efeito fulminante!

Aqui não há nada para se fazer, exceto a praia, de uma areia completa e impecavelmente branca, mas apinhada de banhistas e um som ensurdecedor de todos os lados: axé, techno, funk e todo arsenal de música brega e de mau-gosto. O rio Negro é muito bonito e perigoso, devido às corredeiras e pedras que, nesta época, começam a se evidenciar em seu leito exposto. Dizem que de dezembro a fevereiro, a navegação se torna extremamente perigosa a partir de São Gabriel, rio acima.

A maioria das aldeias indígenas fica no rio Negro e seus afluentes, chegando a se levar 15 dias de barco para atingir as povoações mais distantes, na divisa com a Colômbia. Nesse caso, a navegação é um misto de "levar e ser levado" pelos barcos, pois muitas corredeiras não permitem que o barco suba, mesmo com motor de "rabeta". Os Yanomami são os indígenas mais miseráveis e esquecidos no meio da selva amazônica; ficam ao norte de São Gabriel, estendendo-se por Roraima e pela Venezuela, incluindo o Parque Nacional do Pico da Neblina.

Essa é a realidade que encontrei aqui, muito diferente do que imaginava, e que será o meu lar por pelo menos dois anos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A casuística dos fatos

Causa, no mínimo, estranheza o fato de que a quebra de sigilo de alguns personagens ligados ao PSDB tenha sido divulgada justo no momento da virada das pesquisas eleitorais em favor da candidata do PT, Dilma Rousseff, mesmo que esses acessos indevidos tenham ocorrido em outubro ou novembro de 2009. Será que só no momento exato de se utilizar a informação ela teria sido descoberta? Claro que não! Na verdade, a disputa eleitoral corria dentro dos limites da educação e do respeito que se espera de candidatos à Presidência da República até que Serra e seus aliados perceberam que seu discurso não convencia ninguém.

A guerra de baixo nível começou quando o PSDB viu seu barco fazer água e os indicadores em favor da candidata petista chegaram a inacreditáveis 51% do eleitorado. Ficava evidente que com palavras comedidas e promessas de campanha não se reverteria esse quadro desesperador. Era necessária munição de grosso calibre mas, diante da falta de críticas fundamentadas quanto aos dois mandatos de Lula, só restava apelar para factóides. Talvez essa velha arma de guerra funcionasse mais uma vez, mesmo que os fatos apresentados não confirmassem sua origem. Primeiro foi a tentativa de associar a imagem de Lula às FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, relembrando o passado guerrilheiro de Dilma Rousseff.

Não se sabe quem fez a besteira de garimpar os dados da Receita Federal, mas é evidente que, assim como Serra não faria uso desses artifícios, Dilma também não cometeria essa imprudência, até porque o seu time estava ganhando de goleada! O governo Lula, a despeito de todas as críticas que fizemos até hoje, teve méritos incomparáveis ao possibilitar que um número muito expressivo de seres humanos tivesse acesso a condições mínimas de sobrevivência, ao contrário de seus antecessores, FHC, Collor e Sarney que só atenderam, em suas políticas, às classes dominantes.

O que se espera é que o eleitorado não caia nessa tola armadilha, nem mude de opinião às vésperas das eleições. Essa jogada suja já foi praticada por Collor contra Lula, apresentando uma filha sua ("ilegítima") à imprensa e revertendo o eleitorado. O resultado foi desastroso, como todos sabem: um paranóico na Presidência, tomando medidas radicais e inconsequentes, que levaram o país ao caos e resultaram em prejuízos incalculáveis para as empresas e para milhões de brasileiros, que viram suas economias transformadas em poeira, nas cadernetas de poupança.

Transformar um factóide em um escândalo é a grande arma do PSDB agora, no desespero. É evidente que a cúpula do PT e a própria candidata não se rebaixariam a tanto, devassando as declarações de renda de políticos da oposição, embora isso não devesse ser nem mesmo necessário: homens públicos deveriam ter a obrigação de divulgar sua declaração de bens antes das eleições e depois, quando saíssem do poder. É o mínimo que se espera de quem irá manipular verbas públicas e estará sujeito a propostas desonestas de grandes empresas.

Partindo do mesmo raciocínio, ninguém deveria ter o direito de esconder suas fortunas pessoais; só assim saberíamos quem vive no "País das Maravilhas" e quem sofre as agruras da vida por não ter o que comer, pela simples razão de ter nascido do "lado errado" da vida! Se riqueza não é vergonha, ninguém deveria ter motivos de escondê-la, não é verdade? Porém, o mundo não é tão simples assim, e se fôssemos investigar as origens das grandes fortunas, ficaríamos perplexos pela quantidade de safadeza que as gerou!

Em uma sociedade de castas, dissimulada como a nossa, falar de fortunas é desvendar as tramas de um tabu; é penetrar em um labirinto de negociatas e artifícios que surgiram, no Brasil, desde a época da colonização, passou pela distribuição de terras em sesmarias, percorreu o sinuoso caminho das grilagens e da malversação do dinheiro público, chegando ao clientelismo dos partidos políticos que hoje dominam o cenário político nacional.

Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos e constatar a sujeira que esses políticos são capazes de levantar; quase uma vocação inata para a imundície da sonegação de informações e da deturpação dos fatos pois o que vale mesmo é ganhar as eleições. Depois, os tolos que votaram em qualquer um deles se esquecerão dessa podridão com a qual compactuaram e comemorarão a vitória; ou então lamentarão a derrota, arrependendo-se de não ter explorado melhor e mais espertamente a sordidez humana!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Reação das Elites

Desde que publiquei minha "Resposta a Jabor" venho recebendo dezenas de protestos daqueles que consideram meu texto uma "agressão a um mito de nossas elites intelectuais". Isso me envaidece pois significa que minha "Boca Ferina" está cumprindo seus objetivos de não se calar diante das ignomínias dessa sociedade hipócrita em que vivemos.

Uma das críticas em particular me agradou bastante: foi a de uma "dama da sociedade mineira", proprietária de uma cadeia de jornais e diversas grandes empresas, que se sentiu particularmente ofendida e me agrediu com expressões não apropriadas para quem é dirigente de meios de comunicação que, por definição, deveriam contemplar a diversidade de opiniões, a divergência natural que se espera das democracias.


Pois essa senhora, Laura Medioli, chamou-me de "idiota" por achar que o cineasta Arnaldo Jabor, que se tornou crítico social, jogando suas farpas em todas as direções, está acima de qualquer suspeita! Se ele pode agredir verbalmente as autoridades, os movimentos sociais e quaisquer personalidades que não estejam alinhadas com suas idéias conservadoras, por que não podemos também considerá-lo um tresloucado franco-atirador irresponsável, que se aproveita de seu acesso privilegiado à grande mídia televisiva para sustentar-se sob os holofotes do poder e da fama que não conseguiu no cinema?

Mas é assim que as "elites" interpretam a liberdade de expressão: se as manifestações estão de acordo com suas teorias elitistas e são convenientes às castas dominantes, tudo bem; se a oposição se manifesta, colocando em dúvida o direito das minorias de usufruir sozinhas das benesses do capitalismo selvagem em que vivemos, então nós é que somos radicais!

O que seria o radicalismo? Para os poderosos, radicais são os que ameaçam suas teses de dominação política pelo clientelismo e de dominação econômica pela subserviência dos trabalhadores a seus interesses pessoais. Para mim, radicalismo é a pretensão de ser  dominador e de subjugar o povo a uma condição de subsistência onde nem mesmo as carências elementares são satisfeitas. Viver de forma nababesca e aristocrática não é compatível com a miséria! Possuir bens em excesso não é compatível com a submissão de milhões de indivíduos à penúria!

Radicais são os poderosos, os aristocratas, os arrogantes que chafurdam na lama da dominação em detrimento da fome, da miséria e do sofrimento das maiorias! Portanto, senhores incomodados com minhas críticas, fiquem atentos, pois continuarei denunciando as manobras políticas, criticando os poderosos e defendendo as minorias e os oprimidos!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De Cacarecos e Tiriricas

Lembro-me de uma eleição, talvez nos idos de 1960, quando, do zoológico de São Paulo, um rinoceronte chamado "Cacareco" conseguiu uma das maiores votações da história. Depois dele teve o Eder Jofre, o cacique Juruna, o Agnaldo Timóteo, os bispos da igreja Universal de Edir Macedo, o macaco Tião e por aí seguem as eleições mais desacreditadas do mundo capitalista. A verdade é que ninguém dá valor a seu próprio voto porque sabe que é um em 130 milhões, a maioria dos quais analfabeto!

Agora vemos a farsa dessas eleições representada por dois partidos que já foram "de esquerda" e hoje representam o que há de mais sórdido na política brasileira, por uma única razão: a ambos, PT e PSDB, se aliaram TODOS os partidos "de direita", simbolizando a falência múltipla dos órgãos dessa "nova república" dos Cacarecos! Se a Ideologia morreu, com ela também se foi a ética, a decência e a dignidade! Foram-se os dedos, ficaram os anéis, que só mudam de dedos, mas permanecem nas mãos dos corruptos e imorais representantes de nossa sociedade.

Sociedade hipócrita, que finge defender os humildes, mas vota nos magnatas aristocráticos, donos das casas de jogos e de prostituição, nos latifundiários e nos representantes das castas mais elitizadas (no mau sentido), mineradoras, ruralistas e pecuaristas, banqueiros e financistas ligados a empresas multinacionais, gigantes do setor de telecomunicações, empreiteiras, todos comprometidos com grupos bilionários, sem nenhuma obrigação de resgatar a dignidade humana e a decência na administração pública, tão surrupiada pelos políticos.

Votar para que? O que significa o meu voto diante de tanta safadeza, tanta mentira, tamanha hipocrisia, teatro de mambembes tentando nos fazer de idiotas em pronunciamentos sem nenhum compromisso ou convicção, diante das câmeras, segurando bebezinhos nos bairros pobres, acariciando mendigos, oferecendo empregos públicos, fingindo tristeza e compaixão pelos menos favorecidos, esses mesmos esquecidos durante tantos anos e tantos mandatos!

Tiririca será eleito em São Paulo, assim como foi o Cacareco no passado. O que um idiota como esse poderá fazer em uma casa legislativa? Defender a estupidez? Lutar pelos idiotas? Fazer palhaçadas para os cretinos que nos representam e roubam descaradamente? Pois Tiririca não será pior do que esses porcos imundos que percebem salários e propinas.

Você que é tolo o bastante para votar nesta eleição faça uma experiência: sorteie os números dos partidos e de seus candidatos e nem veja em quem votou. Não fará a menor diferença!

Resposta a Arnaldo Jabor


A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE (ARNALDO JABOR)
Quando José Serra era líder estudantil, nas décadas de 60 e 70, suas ações, assim como as de Fernando Henrique Cardoso, eram voltadas para a restauração das liberdades democráticas e a implantação de um Estado de Direito baseado na Justiça Social e na distribuição equitativa de rendas. Isso foi há mais de 40 anos! Eles se esqueceram de seus compromissos...

Quando FHC assumiu o poder, disse: “Esqueçam-se de tudo o que eu disse e escrevi até hoje!”, pois iria entregar o Brasil a multinacionais.

Quando o PSDB foi criado, pretendia se opor a tudo o que era sujo e ilícito neste país: falcatruas, alianças espúrias, favoritismos políticos... mas o tempo passa e as pessoas se esquecem de seus ideais. Hoje, assim como o PT, o PSDB se aliou a tudo o que é mais podre neste país: a escória!

José Sarney, Ronaldo Caiado, Renan Calheiros, Joaquim Roriz, Fernando Collor de Mello, José Roberto Arruda, Kátia Abreu, Aldo Rebelo, Antônio Carlos Magalhães Neto, Índio da Costa, Michel Temer, Heráclito Fortes, Abelardo Lupion, Jorginho Maluly, Bispo Gê Tenuta... quem é pior???

Pois Arnaldo Jabor tem a estúpida capacidade de chamar os Sem-Terras de bandidos! E os ruralistas não são bandidos? Sua ação corporativa representa a arrogância sem limites dos poderosos contra a maioria esmagadora da população de um país rico e de trabalhadores pobres.

É muito fácil falar asneiras sentado placidamente em um apartamento de luxo, cercado das mordomias globais, e em defesa de cartéis capitalistas! Quero ver esse mesmo Arnaldo Jabor passar fome em uma aldeia indígena ou quilombola, cercado de “coronéis do sertão” que impedem seu acesso às vias de transporte e às fontes de água, como ocorre em todo o sertão baiano, onde a população, milhões de famílias, lutam pela subsistência, humilhados a aceitar um pouco de água distribuída por carros-pipa de empresas controladas por políticos corruptos de Brasília!

Não, Arnaldo Jabor e nenhum dos magnatas desse país não aceitam a vitória quase certa de Dilma Rousseff para a Presidência da República, mesmo que ela seja tão ruim quanto José Serra, pois Lula, apesar de muitos erros, conseguiu diminuir a miséria e a fome neste país como nenhum outro presidente antes havia tentado. Pode-se criticar o paternalismo estatal que levou a essa melhoria de qualidade de vida; pode-se criticar sua opção pelo desenvolvimentismo, ao invés de trabalhar por uma sociedade menos consumista e com menos desperdício.

Mas o partido de Serra e de FHC é o maior defensor do Capitalismo Globalizado, do Neo-Liberalismo! Serra e seus aliados nunca, jamais, em tempo algum se preocuparam com a opção pelos pobres! Sim, os Sem-Terras cometem crimes, assim como os Ruralistas. Mas o alcance desses crimes não chega aos pés das perversidades dos conflitos fundiários do sertão nordestino; não podem se comparar aos crimes contra a Natureza, dos Ruralistas: milhões de hectares queimados, bilhões de árvores derrubadas em áreas de proteção permanente, para serem ocupadas com a criação de gado e as plantações de soja!

Brasileiro come soja? Sim, mas a maior parte da soja produzida no Brasil, assim como a cana-de-açúcar, o carvão vegetal, o gado são para exportação e enriquecimento de uma população insignificante de menos de 2% (dois por cento!) dos habitantes desse país! Mais de 50% da população brasileira é pobre e mais de 10% deles está na miséria, passa fome, se alimenta mal e tem seu destino determinado pela pobreza absoluta, carente dos nutrientes necessários para concorrer com os filhotes de magnatas que representam menos de 1% dessa imensa população, ferquentam escolas no exterior e vão todos os anos à Disneylândia! Por que esses privilegiados são diferentes?

Porque nossa opção pela riqueza de poucos é herança do Império, do Colonialismo, das Sesmarias, da Idade Média, da Nobreza corrupta. FHC se via como o Déspota Esclarecido; mas ele teve acesso ao conhecimento graças a sua origem aristocrática. Os Sem-Terras, os “bandidos” do Jabor, vivem na miséria, passam anos acampados em barracas de lona, sem conforto, sem água encanada, sem esgotos, sem escolas, sem luz elétrica, humilhados e rechaçados pelos fazendeiros... o que esperar dessa população de marginalizados?

Marginais são os ricos que não têm consciência social, pouco se importam com a miséria e nunca passaram por dificuldades financeiras!

Nossas elites intelectuais se esqueceram dos pobres e se aliaram aos poderosos, em benefício de si próprios, em detrimento da população abandonada das pequenas cidades, dos povoados, da aldeias e do sertão.

É fácil fazer uma obra faraônica e deixar seu nome na História! Difícil é ouvir o povo, escutar suas demandas e necessidades essenciais, fazer obras que minimizem seu sofrimento e sua dor! Para isso, Jabor, Serra e FHC não têm estômago, porque olhar a pobreza e ter compaixão dela é para poucos, para os eleitos, para os verdadeiramente BONS e HONESTOS!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"A Hora da Virada II"

Bastou a equipe de marqueteiros do Serra perceber o grande vexame das pesquisas eleitorais para começar uma fulminante campanha de injúria e difamação contra Dilma Rousseff, associando-a a políticos corruptos como Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor de Mello, hoje aliados de Lula pelo PMDB, além de José Dirceu, do PT. Por que será que todas as campanhas eleitorais no Brasil seguem sempre o mesmo curso? Começam decentemente para descambar, ao menor sinal de fracasso, para a apelação e a covardia!

O pior é que Serra não pode se fazer de inocente, tendo como aliado o partido mais corrupto do país, o Democratas, onde se alojam políticos como aqueles que levaram a capital federal à maior crise de sua história: José Roberto Arruda, Joaquim Roriz e Paulo Otávio, excluídos do processo eleitoral depois de um escândalo sem precedentes na administração do Distrito Federal. Também estão no Democratas o espólio político de Antônio Carlos Magalhães, ACM Neto, e os deputados ruralistas mais raivosos, capazes de qualquer ato ilícito para defender seus interesses no agronegócio, como Ronaldo Caiado, Roberto Magalhães e Onyx Lorenzoni.

A verdade é que, no Brasil, alianças políticas levam, necessariamente, a caminhos suspeitos, principalmente quando elas ocorrem às vésperas das eleições: a contrapartida do apoio político é sempre a acomodação de figuras notórias pela sua incompetência em cargos de alta relevância. Exemplo disso é a colocação de Edson Lobão no cargo de ministro das Minas e Energia, posto dos mais cobiçados no primeiro escalão do governo Lula. Outra figura notória entre os corruptos foi o ex-ministro da Integração Nacional e ex-presidente do Banco do Estado da Bahia, Geddel Vieira Lima, que já foi acusado de desvio de recursos públicos para supostos esquemas de corrupção, e agora é candidato ao governo da Bahia.

Voltando às eleições, é neste momento de crise que se conhecem os políticos e sua índole. José Serra talvez seja o menos responsável por essa baixaria, uma vez que sua campanha é feita pelos seus marqueteiros, talvez até à sua revelia. No entanto, omissão é tão grave quanto a ação desleal; Serra está se omitindo e, tacitamente, concordando com os rumos que sua campanha está tomando; em vez de mudar seu estilo e apresentar propostas consistentes, prefere acatar as ordens de seus lacaios e acreditar que, denegrindo sua adversária, vencerá.

Os próximos passos dependerão dos resultados dessa ação: se a queda nas pesquisas se estancar, eles continuarão batendo em Dilma e desenterrando todo tipo de factóide que possa reverter os números do desastre. O PSDB está desesperado e não consegue suportar mais quatro anos de "quarentena" longe do poder. Terão São Paulo e Minas Gerais, mas não terão o Palácio do Planalto! Por isso apelam para qualquer tentativa de salvar o barco do naufrágio.

Acusações levianas são comuns em situações como essa que presenciamos agora; e as consequências sempre nos conduzem à ingovernabilidade, não importa quem vença o pleito. Desde a época de Fernando Henrique Cardoso tenta-se realizar as reformas política, tributária e previdenciária, sem sucesso. Oposição e situação são igualmente culpados por essa inoperância das casas legislativas, que perdem mais tempo em discussões inócuas e troca de acusações intermináveis e estúpidas do que em projetos de interesse da Nação.

Assim, a "hora da virada" do PSDB se apresenta como um episódio lamentável e covarde contra o PT e seus aliados. Querem "ganhar no grito" já que sua argumentação não convenceu ninguém. Se Dilma partir para o confronto, seus algozes terão ganho a batalha. Caso contrário, veremos como se comporta o eleitorado diante dessa farsa que se repete há décadas. De qualquer modo, quem perde é o Brasil, que presencia esse "espetáculo" deprimente a cada eleição.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

"A Hora da Virada"

Agora que a eleição presidencial está praticamente definida, caso não haja algum factóide criado pelo PSDB e seus aliados, já podemos avaliar o que ocorreu nas campanhas para que uma decisão tão rápida e fulminante tenha se sucedido. Afinal, todos esperavam uma disputa acirrada no segundo turno e não um crescimento tão fulminante de Dilma Rousseff.

A primeira consideração diz respeito ao estilo político dos contendores. Enquanto Dilma se adaptou rapidamente a uma nova imagem criada pelos marqueteiros, mudando sua aparência e conduta diante das câmeras, Serra se manteve em seu estilo arcaico de pronunciar didaticamente as palavras, como se falasse para débeis mentais, tentando passar conceitos óbvios e requeridos de qualquer administrador, e não trazendo idéias novas que o diferenciassem de sua opositora. Dilma foi além, e invadiu o campo de ataque do concorrente, fazendo dela as palavras que deveriam ter sido ditas pela oposição, propondo mudanças que não foram feitas por Lula.

O segundo aspecto surpreendente é que Lula contrariou o mote de que não se transfere popularidade. Dilma não só herdou a boa fase de Lula, como também usufruiu de sua habilidade política de transferir a Dilma boa parte da responsabilidade pelo excelente desempenho de seu governo. A continuidade passou a ser vista como uma vantagem competitiva e não uma repetição de práticas abomináveis. Essa virada de conceitos se deu porque a população percebeu que a corrupção é inerente à política e não exclusiva de alguns políticos; portanto, não adianta mudar os políticos: a sujeira será sempre a mesma! Pior ainda: a corrupção está, principalmente, no poder legislativo, pela interferência direta de caciques políticos na administração pública, no direcionamento das verbas públicas e no favorecimento de grupos políticos situados à direita do espectro político.

A terceira consideração se refere ao fraco desempenho de Marina Silva, a única que poderia tirar votos do PT. Marina optou por não bater nos adversários, não fazer alianças políticas e ficar com um tempo irrisório do horário político gratuito nos meios de comunicação. Foi uma estratégia equivocada pois os Verdes não representam mais do que os 7% da candidata; não existe consciência ecológica em nossa sociedade. Marina Silva também não fez aliança com Heloísa Helena, a única parceria que poderia contrabalançar o estilo suave de Marina. Heloísa Helena é uma guerreira e poderia demonstrar a garra necessária para angariar votos da extrema esquerda e anular candidaturas inócuas, como a de Plínio de Arruda Sampaio. Marina enveredou por um caminho que demonstra sua inexperiência política e acabou favorecendo a candidatura de Dilma.

Por último, e não menos importante, deveremos avaliar o momento político brasileiro, carente de lideranças capazes de confrontar o grande líder Luiz Inácio Lula da SIlva, um operário que se fez político e estadista, ganhando as manchetes e a atenção do mundo para sua opção pelos pobres. Pode-se questionar seu estilo populista e sua opção desenvolvimentista, por um lado suprindo artificialmente carências através de bonificações do Estado a populações miseráveis, e por outro aliando-se ao que há de mais retrógrado e pernicioso na política brasileira, que são os cartéis do agronegócio e das grandes empresas dos setores de mineração, construção civil, finanças, etc.

Diante dessas opções equivocadas mas eficazes sob o ponto de vista macroeconômico, só nos restaria contrapor políticas voltadas à mudança do modelo político e econômico nacional, favorecendo atividades menos onerosas ao meio ambiente e atitudes menos consumistas, como propõe Marina Silva. Porém, seu discurso não tem eco na população e nas elites. Assim, só nos resta aceitar a derrota e nos conformar com mais quatro anos de desgoverno e de privilégios às classes abastadas, em detrimento da maioria da população. E, paralelemente, ver eleitos os representantes desses mesmos poderosos, os caciques políticos e seus aliados. É uma pena, um atraso que poderá custar muito caro à Nação brasileira e ao planeta Terra, já que grande parte da biodiversidade se encontra aqui.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lula não Leu!

Quando terminei minha expedição pelo rio São Francisco, em dezembro de 2009, fui procurado por um alto funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, Airton Saboya Valente Jr, Gerente da Coordenação de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas, Industriais e de Serviços, responsável pela captação de novos títulos, convidando-me a publicar meu livro através do BNB. Enviei meus originais em janeiro de 2010 e aí começou a minha via crucis!

Enviei diversas versões do livro, excluindo ou alterando textos censurados pelo banco, que alegava serem inaceitáveis minhas críticas a personalidades do governo federal e às obras da transposição, "menina dos olhos" de Ciro Gomes e Dilma Rousseff. A contragosto fiz todas as modificações exigidas pelo BNB mas, mesmo assim, o tempo passava e nenhuma resposta definitiva, nenhum comprometimento, até que chegou junho, quando recebi uma resposta evasiva de que um membro do Conselho Editorial havia pedido "vistas" do processo.

Eu me senti como um réu diante de um tribunal de exceção, sendo julgado por falar a verdade, por divulgar que a Revitalização do rio São Francisco era uma mentira, que as obras da Transposição não atenderiam às necessidades do povo nordestino, que havia lutas pela posse das terras indígenas e quilombolas ; tudo o que eu vi e fotografei não passava de imaginação de um escritor sensacionalista. Fiquei parado, suspenso no ar.

Passou-se junho e julho, e nenhuma nova mensagem minha foi respondida pelo sr. Airton Saboya Valente Jr. Foi quando percebi que eles tinham conseguido seu intento, ou seja, evitar que um livro polêmico fosse publicado antes das eleições! Afinal, Dilma Rousseff liderava as pesquisas de opinião com razoável vantagem sobre seu concorrente!

Diante dessa manobra anti-democrática, decidi publicar meu livro na Internet, de graça, para que todos pudessem lê-lo e tomar conhecimento das mentiras do governo LULA nas obras faraônicas do Amazonas, do semi-árido nordestino e da bacia do São Francisco. Criei um blog, ao qual atribuí o nome de "Lula não Leu" pois tenho certeza que ele não lerá meu trabalho! Não é de seu perfil a leitura de textos extensos e analíticos sobre a realidade brasileira. Afinal, ele decidiu, como um déspota, com o uso do Exército Brasileiro, a construção dos canais de transposição, mesmo contrariando as opiniões de especialistas em hidrologia e meio ambiente, passando longe dos interesses do povo ribeirinho.

Também coloquei meus originais para "download" nos sites 
SCRIBD OVERMUNDO. Mais de 1.200 pessoas já se interessaram pelo meu trabalho e creio que muitas mais terão o cuidado e a atenção de conhecer essa realidade tão distante dos olhos da população urbana de nosso país. Minha dificuldade é divulgar o trabalho e, para isso, conto com vocês: leiam, divulguem, repliquem minha mensagem para que muitas pessoas tenham a lucidez de julgar um governo que começou com a corrupção do desvio de dinheiro do Mensalão e acaba com a construção de obras gigantescas de engenharia (Hidrelétricas na Amazônia e Transposição no Nordeste) que certamente terão um custo social e ambiental irreparáveis! Conto com vocês!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DEUS

Para as civilizações primitivas DEUS era qualquer manifestação incompreensível dos fenômenos naturais, incluindo nossa presença aqui na Terra. Assim, DEUS não era uma entidade única mas diversas divindades especializadas como o Sol, o Trovão, os Raios, os Vulcões, as Tempestades. Na Antiguidade os povos acreditavam haver um espaço na Terra reservado para essas divindades; os Gregos chamavam essa região desconhecida de Monte Olimpo. Os Egípcios mesclavam aspectos humanos e animais para caracterizar as figuras de seus deuses até que o faraó Akhenaton estabeleceu o culto a uma divindade única: Ra, o Deus-Sol.

As religiões contemporâneas têm, cada qual, seu próprio conceito de DEUS, mas quase todas afirmam que "o Homem foi feito à Sua imagem e semelhança", atribuindo, assim, nosso papel de seres superiores na cadeia dos seres vivos da Terra, um pequeno planeta do sistema solar. Algumas religiões acreditam na reencarnação, outras não. Mas todas, sem exceção, criaram sua Cosmogonia para suprir os temores dos homens de que nossa vida se extinguiria com a morte, e nada restaria de toda nossa pequena obra quando deixássemos este mundo.

Assim é a nossa Fé e nosso Amor a DEUS: um sentimento egoísta de permuta: eu creio em DEUS e Ele me assegura que existe uma outra vida após a morte e ela me redimirá de todos os meus erros e pecados e me propiciará uma nova oportunidade, repleta de felicidade. Alguns fanáticos acreditam que os homens são superiores às mulheres e, dando sua vida para uma causa extrema em louvor a esse DEUS, mil virgens lhes seriam reservadas no Paraíso. Que visão mais primitiva e fantasiosa! Que simplórios são os Homens!

Se DEUS existe e Ele representa o Poder absoluto em toda sua magnificência, imaginemos que somos como as células de nosso organismo. Nós somos DEUS e as células são os Homens da Terra. Nós, como deuses, não tomamos conhecimento de nossas células, e mal sabemos que elas existem. Apenas quando algo funciona mal em nosso organismo nossa atenção se volta para elas e, mesmo assim, como um agrupamento uniforme que executa determinada função: o fígado, os rins, o coração, os pulmões, o cérebro, os intestinos...

Se um Amor absoluto a DEUS fosse possível, ele deveria ser desinteressado e incondicional. "Amar a DEUS sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" é o primeiro Mandamento das Leis Cristãs. No entanto, aqueles que amam a DEUS o amam com segundas intenções, fazem orações pedindo Graças, oferecem dinheiro, velas, flores "em troca de" benefícios pessoais, de vantagens em detrimento de outros seres humanos.

DEUS não existe; ao menos tal como o concebemos. Não somos capazes, em nossa infinita insignificância, de conceber um Criador Supremo, detentor de poderes ilimitados e capaz de reger a Sinfonia das Esferas e assegurar que esse Universo, que não teve início e não terá fim, funcione de acordo com Suas leis absolutas e previsíveis. Nada é previsível neste Universo que conhecemos. E o conhecemos muito pouco, quase nada. Passaremos nossas vidas pesquisando e descobrindo novas realidades desse Universo, e a Humanidade se extinguirá antes que um infinitésimo dele seja desvendado pela nossa tão decantada Ciência!

Precisamos encontrar outras razões para EXISTIR. Precisamos viver plenamente, cultivando valores que nós mesmos, seres humanos, criamos para viabilizar nossos relacionamentos saudáveis. Não há justificativas para acreditar que somos capazes de conceber uma Fonte Absoluta da Existência do Universo (nosso DEUS). Nossa percepção do Cosmos é pequena demais para que possamos sequer imaginar esse manancial de energia que supomos existir.

Esta é uma verdade cruel, insuportável para a maioria dos seres humanos, mas inexorável: DEUS, assim como o concebemos, não passa de uma figura patética e indigna dos poderes incomensuráveis que a Ele atribuímos. Mais se parece com os super-heróis norte-americanos, um Super-Homem capaz de direcionar suas forças para salvar uma mulher em detrimento de toda a Humanidade! DEUS deveria ser muito mais do que somos capazes de imaginar.

Se DEUS existisse e pudéssemos mesmo, como indivíduos, nos comunicar com ele, por que essa divindade atenderia aos pedidos de uns poucos e deixaria a maior parte da Humanidade padecer de miséria e de fome, sofrer as injustiças dos poderosos e, estes, usufruir das riquezas e confortos que a tão poucos são reservados? Não há lógica que explique isso!

Mas mesmo assim, agnóstico ou ateu, somos compelidos a criar regras de relacionamento que nos mantenham dentro de limites aceitáveis de convivência e respeito. Essas regras, mesmo evoluindo ao longo de nossa História, não impediu as barbáries das guerras, das torturas, das atrocidades cometidas pelos Homens, nossa vergonha irreparável.

E o que aconteceu com o sofrimento daqueles que padeceram dessas atrocidades? O tempo faz com que joguemos tudo no baú do esquecimento. Mesmo os maiores vilões da História têm seus nomes gravados, adorados, odiados, mas nunca esquecidos. Nós nos lembramos de Hitler, de Mussolini, de Átila, de Napoleão, de Médici, de Geisel, de Maluf, de Sarney, mas não nos lembramos dos heróis anônimos que foram assassinados a mando deles, dos líderes comunitários que deram suas vidas para redimir seu povo, dos valentes que desafiaram as leis dos homens para proteger inocentes, dos destemidos que lutaram e morreram pela sua causa.

Onde estava DEUS?

Somos os deuses das nossas próprias células: elas possuem vida autônoma, e delas não temos consciência. Onde estávamos nós quando os sintomas do câncer, e de rebeliões intestinas se manifestavam em nossos organismos? Cuidávamos de nossa própria vida...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cultura de Facebook

Em minha juventude o país vivia uma ditadura militar sangrenta e extremista; proliferavam os movimentos radicais de direita, representados pela OPUS DEI, "Tradição, Família e Propriedade" e Comando de Caça aos Comunistas, de orientação fascista e falaciosa. Eu estava no campo oposto, dos movimentos socialistas e comunistas, lutando contra a ditadura militar e em defesa da liberdade de expressão. Eram facções rivais e ideologicamente opostas.

Naquela época líamos muito, líamos tudo o que caía em nossas mãos, de acordo com nossa ideologia. Eu fazia Estudos Orientais na USP e batalhava nos movimentos estudantis. Fui preso algumas vezes pela polícia política, mas consegui sobreviver, ao contrário de alguns companheiros, torturados e assassinados nos porões do Exército, da OBAN (Operação Bandeirante) e do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), os instrumentos de tortura e repressão da ditadura militar.

Sobrevivi, mas ficou um sentimento de perda irreparável, tanto pelos companheiros mortos, como pelos mutilados e lobotomizados por um "trabalho" de orientação da CIA e do SNI. Fiquei, por muitos anos, traumatizado pelos riscos de ser identificado e morto, em plena juventude, sem ter produzido nada, sem deixar meu rastro na História desse país.

Naquela época líamos muito, jornais, revistas, livros, panfletos, assistíamos espetáculos teatrais censurados, e assim formávamos nossa consciência política e acreditávamos em um mundo de Utopia em que os seres humanos eram pessoas do bem e buscavam, em sua essência e maioria, a solução dos graves problemas sociais que afligiam e afligem o mundo que conhecemos.

Nada disso aconteceu. Prevaleceu o ideário da Ditadura; venceu o Capitalismo e a doutrina Norte-Americana do desperdício, do consumismo e da alienação. Se os jornais, mesmo os mais conservadores, tinham uma ideologia própria e respeitavam o direito de divergir, o tempo fez com que os meios de comunicação se padronizassem em um modelo de informação medíocre, globalizado e infame, que transforma cada indivíduo em um arauto de ideias preconcebidas, sem conteúdo e inofensivas.

A divergência ideológica, a Dialética, é o mais perfeito instrumento de evolução do pensamento humano. Mesmo nos tempos mais negros da Idade Média os pensadores conseguiram produzir obras essenciais para a evolução intelectual da Humanidade.

Porém, com a massificação dos meios de comunicação, essa discussão dialética cedeu lugar à mediocridade, assassinando o pensamento filosófico. O Homem passou a se interessar apenas pela Individualidade, pelo Egoísmo, pela Cultura da Imagem Própria, em detrimento do Ser Humano! Ficamos mesquinhos e pequenos, insignificantes diante do Universo.

Primeiro foi a leitura de Manchetes! Já não importava a análise aprofundada dos eventos, mas apenas "saber" que esses acontecimentos existiam: "você viu o atentado contra os edifícios do Word Trade Center"? "Pois é... que horror, não é mesmo?" Apenas isso! Causas? Consequências? Para que? Bastava saber que aconteceu!

Agora, as redes sociais fazem o "estrago" final, eliminando qualquer preocupação com o entendimento de causas, efeitos e prioridades nos eventos do mundo contemporâneo: "hoje acordei cansada", diz a jovem. "Por que?", pergunta o 'amigo'". Eu fui à "balada" e cheguei às seis da manhã!", responde e finaliza a jovem. Apenas isso.

É assim que se desenvolve o pensamento contemporâneo. Tanto faz a precedência dos fatos, todos passaram a ter a mesma relevância, seja o cocô do neném, seja o porre do indivíduo, seja a morte de milhares de pessoas no tsunami das Filipinas, seja a miséria dos bilhões de esquecidos nos países pobres e em desenvolvimento. Estamos todos "no mesmo barco furado" e sem destino.

A "Cultura do Facebook" é a mais perniciosa da História da Humanidade! Milhões de pessoas conectadas, sem saber o que dizer, sem ter nada para dizer de relevante nesse mundo de mediocridade e marasmo em que vivemos! Somos, assim, levados pela correnteza do excesso de palavras e ausência de conteúdo, cada um "na sua", tentando passar o tempo e deixando a vida seguir seu curso inútil, desnecessária e irrelevante.

Para onde caminhamos? Qual o futuro dessa Humanidade sem causas, sem ideias, sem nada para defender ou contestar? Provavelmente, seremos conduzidos para a catástrofe natural, uma vez que, sem ideologia e sem destino, o excesso de consumismo e individualismo nos levará, necessáriamente à extinção.

Melhor assim do que viver sem propósitos!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Nossa heranças políticas

Depois do golpe militar de 1964 todos os partidos políticos foram extintos, com a declarada intenção dos generais de acabar com as ideologias políticas e, ao mesmo tempo, estimular a dicotomia "situação" e "oposição", metamorfoseadas sob as legendas ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Era uma idéia maquiavélica que incentivava o antagonismo das forças populares e simulava uma "democracia" de fachada, exigida pela política externa norte-americana, que financiou o golpe.

É claro que essa hipocrisia não se sustentou e esses "partidos" (a palavra "partido" havia sido inteligentemente banida das siglas) se fragmentaram entre forças de "esquerda" (ligadas aos movimentos sociais e ao Socialismo) e de "direita" (vinculadas ao Poder sob qualquer pretexto). 
Direita Esquerda eram expressões para identificar aqueles que se sentavam à direita ou à esquerda na Câmara dos Lordes (nobreza, classe dominante, aristocracia) e na Câmara dos Comuns (povo, classe oprimida, democracia), similares ao Senado e a Câmara, tal como o conhecemos, representadas pelos partidos Conservador e Trabalhista, em versão contemporânea do Poder Britânico.

A ARENA se transformou em PDS (Partido Democrático Social) e o PMDB apenas acrescentou o "P (partido)". Foi apenas uma mudança de siglas. O PDS se fragmentou nos partidos de direita: PFL (Partido da Frente Liberal), de Antônio Carlos Magalhães; 
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), de Ivete Vargas; PP (Partido Progressista), de Paulo Salim Maluf; além de inúmeros partidos nanicos à espera de um corruptor e de uma oportunidade para demonstrar seus préstimos. O evento mais claro e vergonhoso dessa "missão" dos nanicos foi a eleição de Severino Cavalcanti em 2005 para a presidência do Senado.

O PMDB se manteve até hoje como sigla e preservou, durante anos, suas características de "lona de circo", sob a qual absorvia e mantinha "unidas" as correntes de esquerda. No entanto, dele saíram os partidos socialistas e a fragmentação maior das oposições no país: PDT (Partido Democrático Trabalhista), de Leonel Brizola; PT (Partido dos Trabalhadores), de Luis Inácio Lula da Silva; PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), de Fernando Henrique Cardoso; PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Miguel Arraes; e os partidos nanicos PSTU, PSOL, PCB, PCdoB, PPS...

A herança política de Getúlio Vargas foi disputada por PTB e PDT. O PTB guinou para a direita e é hoje um dos partidos de sustentação do governo Lula; o PDT se manteve como membro das esquerdas descaracterizadas e atua por conveniência, ora apoiando o governo, ora a ele se opondo. Mas foi o PT quem conquistou a simpatia popular, primeiro pela defesa da Ética na Política, e depois pelos resultados do governo Lula e seu apoio popular. A Ética foi jogada no lixo da História na primeira eleição em que Lula se sagrou Presidente da República, pelo envolvimento em escândalos do Mensalão e pela ambição desmesurada pelo poder manifestada pelo seu "ideólogo maquiavélico" e "eminência parda" de Lula, José Dirceu.

O PSDB e o PFL disputaram, durante anos, a ideologia do chamado Neo-Liberalismo, e do movimento pela Globalização, talvez a mais nefasta corrente política da História da Humanidade pelos seus efeitos sobre os hábitos de consumo e a ambição das classes populares de ascender às castas medianas de consumo. O Desenvolvimentismo preconizado pela Globalização deu origem a um consumismo sem precedentes na História, criando a mais perniciosa corrida pela evolução tecnológica e esgotamento dos recursos naturais.

Depois de anos de escândalos políticos o PFL mudou de nome e criou o Democratas. Não foi suficiente, pois a corrupção estava nas pessoas e não no partido político e, hoje, o Democratas continua campeão de escândalos de corrupção no país. A escória política se hospedou nesta sigla e dominou os noticiários da Polícia Federal nos últimos anos.

Nas próximas eleições a "direita" não está concorrendo ao cargo de Presidente da República e isso nada tem a ver com seu poder político, mas às estratégias dos partidos corruptos de dominar o poder sem se desgastar nos processos eleitorais. Tanto no PSDB quanto no PT os partidos de direita estão atrelados como parasitas à espera da definição das urnas. Seja quem for o vencedor das eleições, eles estarão lá para defender suas "idéias", proteger o poder dos grandes industriais, das grandes mineradoras, dos grandes fazendeiros ruralistas, dos grandes banqueiros, das grandes empreiteiras e das grandes corporações econômicas de nosso país.

Assim, seja o PT ou o PSDB o partido vitorioso, quem comandará o Senado e a Câmara dos Deputados será a direita, revanchista, corrupta, imoral e defensora do conhecido jargão popular: "Mateus, primeiro, os meus"!

O PV e Marina Silva não se aliaram a essa partilha política e resolveram se lançar na disputa sem alianças espúrias. Infelizmente, essa é uma tática "kamikaze" e não tem possibilidade de conquistar o poder. O mesmo fizeram o PSTU e o PSOL, só que sob siglas mais radicais e sem possibilidade de mobilizar a opinião pública. O Partido Verde não é um partido de Esquerda, por não ser ideológico; apenas prega a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento econômico não baseado no extremo consumismo.

Os partidos nanicos de direita são todos inexpressivos, principalmente porque, não tendo uma ideologia própria, vivem de divulgar idéias isoladas, como o "imposto único", sem qualquer importância econômica ou social. Alguns se aventuram a lançar candidatura própria, como o antigo partido de Fernando Collor de Mello. Mas não têm representatividade popular.

Assim, nossas heranças políticas demonstram claramente a falência desse modelo de eleições, de governo e de estrutura do Estado. Não há reforma política que possa modificar essa situação. Seria preciso uma nova Assembléia Constituinte formada por intelectuais, juristas, economistas, sociólogos, antropólogos, ideólogos de todas as disciplinas do conhecimento humano para conceber um novo sistema de governo não atrelado a ideologias anacrônicas, e sem segmentação de castas e de ideias.

No entanto, isso é uma Utopia e o que nos espera é continuar fazendo escolhas erradas e arcar com as consequências de longo prazo: a exploração do trabalho semi-escravo, a subserviência das classes populares à aristocracia do poder econômico, a proliferação dos baixos golpes de corrupção, feitos na nossa presença, sob nossos narizes e compactuados pelo poder dominante: político, econômico e social. Não há escolhas!