segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ideologia e partidos políticos

Vivemos um antagonismo e uma contradição: enquanto a ciência e a tecnologia ultrapassam todas as fronteiras concebíveis e se equiparam à ficção, nossa organização social permanece arcaica e anacrônica. Os partidos políticos perderam a ideologia junto com o desaparecimento das doutrinas marxistas.

E isso não é exclusividade do terceiro mundo! As nações ditas "desenvolvidas" passam pelos mesmos dilemas. Alguns países possuem apenas dois partidos políticos, que se autodenominam "conservadores" e "progressistas", como se houvessem apenas o branco e o preto em nossa natureza ideológica! As matizes não teriam nenhuma importância!

Outros países, como o nosso, mergulharam em um mar de partidos sem qualquer identidade intelectual, senão os próprios nomes, com suas cargas históricas desvirtuadas. Vejam, por exemplo, o trabalhismo: PT, PDT, PTB e outros tantos sem expressão política relevante. O que, de fato, eles representam? O Getulismo morto e enterrado? As centrais sindicais, corruptas e pelegas? O paternalismo estatal de nossas lideranças?

Ou então a velha denominação "esquerda" versus "direita"! Quem é de esquerda? PSDB? PSOL? PT? PDT? PPS? PC do B? Apenas siglas, mas sem conteúdo ou orientação ideológica! A discussão das idéias políticas não existe dentro dos partidos políticos!

Então, o que os diferencia, senão seu maior ou menor fisiologismo ou "grau de adesão" ao partido no poder? Alguns até assumiram como estratégia "crescer para aderir ao poder", sem disputar eleições para cargos executivos, como é o caso do PMDB e do DEM (ex-arena, ex-PDS, ex-PFL, ex-qualquer-coisa). É mais confortável e seguro oferecer seu apoio condicionado a concessões por cargos de primeiro escalão, ou por presidência de empresas estatais!

Na verdade, não há saída para os partidos políticos, senão a extinção! É preciso rever o modelo de representatividade, o papel dos partidos políticos, a questão ideológica, a responsabilidade ética como pré-requisito à representação popular, a questão da fidelidade partidária, que deveria ser ideológica...

De que adiantam tantos partidos políticos se o povo não se encaixa em nenhum deles? Como ingressar na política sem macular o próprio nome na corrupção, nas mordomias, no nepotismo descarado, nos conchavos da disputa por cargos, na ausência de uma ética política? Como participar da vida política de uma nação quando seus governantes perderam a vergonha na cara e posam para as fotos com a cara de pau de quem nada deve?

O Senado, a Câmara Federal, as Assembléias Estaduais, as Câmaras Municipais, todos os palanques populares estão completamente contaminados pela corrupção e pelo abuso dos mecanismos de poder! E como resgatar a dignidade dessas casas representativas se nossos representantes, escolhidos por nós, corrompem, roubam e trapaceiam sem nenhum pudor ou decência?

Talvez, nessa sociedade movida a tecnologia não haja lugar para a ideologia...  e esse reality show em que se transformaram nossas vidas, seja pelos meios de comunicação, seja pelos sites de relacionamento cada vez mais presentes e determinantes em nossas sociedades, talvez esse terceiro poder seja a nova célula  desse mundo anárquico e cada vez mais desigual!

Enquanto isso, à nossa revelia, os mecanismos do poder institucionalizado articulam as ações, sem o respaldo do povo para o qual ele foi constituído, e devassando cenários de extrema indecência política, seja dos mensalões, seja das obras faraônicas, seja das igrejas universais! E, pasmem, tudo é feito às claras, noticiado em cadeia nacional, explorado por entrevistas onde os responsáveis pelas falcatruas nem se defendem mais, convictos de sua impunidade, e até mesmo admirados pela esperteza de dar um golpe sem consequências para si, senão fama e poder!

Fortunas surgem do nada, de um conceito virtual, "vaporware" como diz a tecnologia, neologismo que revela a fragilidade desse admirável mundo novo! Com isso, jogamos nossa História no lixo da própria História, pois o que vale é o "aqui e o agora", não das doutrinas budistas, mas do imediatismo ágil e esperto!

E se a ideologia morreu e se tornou anacrônica, assim como os princípios éticos e morais, se os partidos políticos representam apenas os "clubes" de poder que dividem a carniça apodrecida da "res publica", se a "governança" se confunde com a "comilança" e com a partilha dos bens e da riqueza nacional, só nos resta fazer parte dessa festa, ou escrever um blog como o meu!...

2 comentários:

Anônimo disse...

A Ideologia não morreu! Morreram os seus líderes e vivemos a pior crise de lideranças da História da Humanidade...

João Carlos Figueiredo disse...

Sim, a ideologia também morreu, pois não existe mais a dicotomia -direita-esquerda-, ou -comunismo-capitalismo. Democracia não é ideologia, mas um conceito genérico sem implementação prática. As diferentes democracias praticadas no mundo não contêm uma ideologia, infelizmente. A ideologia morreu pela falta de discussões; morreu porque desapareceu a Dialética!